Uma derrota humilhante bate às portas do PSDB. Pela segunda vez em dois anos, José Serra será derrotado por um “poste” escolhido a dedo por Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro, foi Dilma Rousseff, em 2010. Agora, será Fernando Haddad, se nenhuma hecatombe ocorrer até 28 de outubro. O partido, no entanto, não terá sido batido pela força inexpugnável de Lula, mas sim pela fragilidade e pelo estilo de seu candidato, que, nos últimos anos, fez com que uma legenda que nasceu na centro-esquerda caminhasse para a extrema-direita.

Serra sempre gostou de dizer que está “à esquerda de Lula”. Mas nenhum outro político brasileiro flertou tanto com o ódio e a intolerância como ele. Em 2010, a baixaria foi concentrada na questão do aborto. Agora, foi a vez do chamado “kit-gay”, com a ajuda do pastor Silas Malafaia. Para impor essa agenda retrógrada, Serra brigou com aliados, com seus próprios marqueteiros e se uniu aos porta-vozes do neoconservadorismo nos meios de comunicação. Deu no que deu.

É este o verdadeiro PSDB? Evidentemente, não. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, liderava a discussão sobre a descriminalização das drogas leves – e o Brasil hoje vê o vizinho Uruguai tomar a vanguarda das discussões referentes aos direitos civis. Aécio Neves ensaiou uma política de boa convivência com o PSB e o PT em Belo Horizonte, rompida na disputa atual, que reaproximava o partido do leito natural da centro-esquerda. Arthur Virgílio provavelmente vencerá em Manaus, com um discurso de conciliação com os movimentos sociais. E Marconi Perillo mantém relação excepcional com o governo federal – melhor até do que nos tempos de FHC. Exemplos disso foram os empréstimos recentes do BNDES, a federalização da Celg e a ampliação da capacidade de endividamento e investimento de Goiás.

De todos os tucanos, o mais ameaçado é Geraldo Alckmin, que mantém em sua máquina figuras colocadas por Serra, que ainda insuflam o ódio e conservam as mesmas alianças fracassadas com alguns setores da opinião pública. Há tempo para uma virada, mas Alckmin terá que ter humildade para ler os sinais da disputa de 2012. Radicalismos neoconservadores não têm mais espaço na sociedade brasileira.

Sendo mesmo Aécio o candidato do partido em 2014, a saída é cultivar qualidades do avô Tancredo, como a tolerância, o equilíbrio e a racionalidade. Além disso, há setores da sociedade que, legitimamente, defendem uma menor participação do Estado na economia, mas não se alinham com a baixaria que foi a marca tucana nas últimas campanhas serristas. Sim, o PSDB ainda tem algum futuro, mas isso depende da capacidade do partido de realizar uma autocrítica e aposentar, para sempre, José “kit-gay” Serra. 

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