Concretos paralelos/Cultura Inglesa – Centro Brasileiro Britânico, SP/ até 2/12/ Dan Galeria, SP/ até 4/12

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EQUILíBRIO INSTÁVEL
Tela de Wollner, que estudou com Lina Bo Bardi e se
tornou um dos maiores nomes do design gráfico brasileiro

Faz parte da história da arte brasileira. Desde que o escultor suíço Max Bill ganhou o prêmio na primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951, com sua escultura “Unidade Tripartida”, o concretismo ganhou definitivamente terreno entre os artistas brasileiros. Conhecíamos
a nossa filiação para a objetividade do design e da arquitetura alemã, e para o concretismo suíço. O que não suspeitávamos era nosso parentesco com os ingleses. A exposição “Concretos Paralelos”, organizada em parceria entre a Cultura Inglesa e a Dan Galeria, em São Paulo, vem oportunamente contar esse capítulo esquecido da história. As duas exposições colocam lado a lado a produção de 19 artistas brasileiros e 14 britânicos, realizada entre 1955 e 1975, apresentando correspondências insuspeitas e surpreendentes.

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SP E RIO
Obra de Hercules Barsotti, que começou sua produção em
São Paulo e depois se integrou ao grupo carioca neoconcreto

As grandes inspirações para esses 20 anos em que o mundo foi concreto foram a Escola Superior da Forma, de Ulm, na Alemanha, e a escola Bauhaus que, mesmo dissolvida pelo nazismo, em 1933, teve seus artistas, alunos e diretrizes espalhados por toda a Europa e boa parte da América Latina, especialmente Brasil e Argentina. A Bienal de São Paulo nasceu no início dos anos 1950 sob signo da abstração geométrica fomentada pela Bauhaus. Foi determinante para contribuir com sua institucionalização e divulgação, influenciando artistas como Waldemar Cordeiro, Luiz Sacilotto, Lygia Pape e Milton Dacosta, que ganhou o prêmio nacional de pintura na terceira Bienal. Os ingleses também participavam desse circuito e muitos vieram para as bienais, como Graham Sutherland, que ganhou o prêmio de aquisição em 1955. Na bienal seguinte, o britânico Ben Nicholson esteve entre os premiados brasileiros Lygia Clark e Abraham Palatnik. E assim sucedeu até os anos 1970, com brasileiros e ingleses dividindo os pódios das bienais de São Paulo.

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MUNDO CONCRETO
Obra de Anthony Hill, um dos britânicos na exposição em São Paulo

Porém, os artistas concretos britânicos nunca alcançaram a representatividade local e internacional que os brasileiros tiveram e foram relegados a um segundo plano. Hoje, seu papel está sendo revisto e a exposição em São Paulo marca esse movimento de resgate de um período que ficou obscurecido na história da arte britânica. A mostra chamou a atenção de Nicholas Serota, diretor do Tate de Londres, que esteve em São Paulo na ocasião da abertura da 30ª Bienal, em setembro. A publicação que será editada também ajudará a marcar esse momento decisivo em que a arte brasileira serve de farol para iluminar o resto do mundo.

Fotos: Sergio Guerini