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Pitt: rosto bonitinho que não consegue dar consistência ao herói imbatívelimbatível

Mesmo com porte de superprodução, Tróia (Troy, Estados Unidos, 2004), em cartaz nacional, tem vários motivos para decepcionar quem for aos cinemas atrás de um Gladiador 2. Primeiro, porque, ao contrário de Russell Crowe no coeso épico de Ridley Scott, o rosto bonitinho de Brad Pitt – escalado para viver Aquiles, herói da Ilíada, poema do grego Homero sobre o qual foi baseada a ação – não consegue dar consistência ao personagem. Segundo, porque o enredo que alinhava batalhas, lances palacianos, virtudes e vícios decorrentes do exercício do poder só encontra seu tom após uma hora e meia de filme. A sensação de alívio acontece quando Príamo, o rei de Tróia, vivido com galhardia por Peter O’Toole, visita a tenda de Aquiles pedindo que este lhe devolva o cadáver de seu filho Heitor (Eric Bana) para que ele tenha um enterro digno.

No entanto, antes da cena que enfoca o pacto de honra até mesmo entre inimigos, muita água rasa passou na tela larga do épico de US$ 185 milhões – há quem especule um valor bem acima dos US$ 200 milhões. Não há nada empolgante, além da estupefação infantil de ver mil barcos alinhados graças ao milagre da computação gráfica e coisas do gênero. Com ligeiras alterações, a história trata da guerra de dez anos travada entre gregos e troianos, deflagrada com o rapto de Helena (Diane Kruger), mulher do rei de Esparta Menelau (Brendan Gleeson), pelo jovem Páris (Orlando Bloom), filho de Príamo. Para recuperar a honra, Menelau se junta ao ambicioso irmão Agamenon (Brian Cox) e parte em direção às muralhas da cidade inimiga. A tropa de elite conta com o invencível Aquiles e seus mirmidões, ou leais subordinados. Acontece que Aquiles – considerado o maior guerreiro da Terra – vive às turras com os dois monarcas gregos. Só depois da morte do amigo Pátroclo (Garrett Hedlund), ferido na garganta por Heitor, é que ele parte para a vingança, dando corpo à famosa ira de Aquiles.

A sequência, que se inicia com a chegada de Aquiles à muralha de Tróia, sozinho
em sua carruagem negra, ganhou todo o cuidado das cenas desenhadas nos
vasos da Antiguidade. O mesmo pode-se dizer do esmero em relação às armaduras e capacetes dos guerreiros. Descontadas estas preocupações estéticas, Tróia incomoda pelo excessivo naturalismo impresso pelo diretor alemão Wolfgang Petersen. Não seria o caso de ter personagens falando grego arcaico, mas é
quase ridículo ouvir o filho de uma deusa proferir diálogos que poderiam estar
sendo travados na esquina e que ajudam a derrubar ainda mais o filme de trama dramática rala.