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Pés nas nuvens, cabeça no chão. Assim vive a piloto Claudine Melnik Caldas Camargo, 34 anos, pioneira na profissão no País

O governo esfola sua imagem e garante um aumento irrisório do salário mínimo em nome da saúde das contas públicas; a retomada da economia já aparece cristalina no radar da indústria; os índices de inflação estão rigorosamente sob controle; o aumento na taxa de juros americanos é certo e já está incorporado nas expectativas. Logo, o mercado financeiro deveria viver dias tranquilos, em plena ordem. Deveria, se seguisse uma lógica compreensível a quem não vive mergulhado em planilhas. “O mercado raciocina ao contrário”, diz o professor de economia da Universidade de São Paulo Joaquim Elói Cirne de Toledo. Sim, há motivos para preocupações e para o nervosismo que levou o dólar a R$ 3,14, o risco Brasil de volta ao patamar dos 800 pontos e a Bolsa de Valores de São Paulo a seguidos mergulhos (tabelas abaixo). O petróleo atingiu sua cotação mais alta da história na quinta-feira 13 (US$ 41 o barril), a China está se movimentando para reduzir seu ritmo de crescimento e… a economia americana tem se saído melhor do que o esperado – o que também é um fato ruim, na ótica invertida do mercado.

“Boas notícias são más notícias”, define Toledo. Os Estados Unidos vão bem, então haverá inflação, pensam os analistas. O efeito seguinte é a alta dos juros, que vai tirar dinheiro dos países emergentes como o Brasil. Vulnerável a trombadas externas, o País se obriga a aumentar os juros para atrair de volta o capital especulativo e joga por terra todo o esforço do Banco Central. “A retomada da economia brasileira só vai ser consistente quando os juros baixarem”, diz Renato da Fonseca, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A depender das atuais perspectivas do mercado, Fonseca vai se decepcionar na semana que vem, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunir pela quinta vez no ano para definir a taxa Selic. Depois das turbulências dos últimos dias, o mercado aposta que, em janeiro de 2005, os juros estarão em17% ao ano. No final da semana retrasada, a aposta média era de 15% em janeiro. A impressão comum é a de que o Copom continuará mostrando sua vontade de reduzir os juros, embora deva segurá-los para ver onde a gangorra do mercado vai parar.

Assim que indicadores importantes, como o preço do petróleo (potencial redutor do crescimento global) e os juros americanos (sempre eles), se definirem, o mercado deve se acomodar. Até lá, o caminho para movimentos especulativos estará livre e desimpedido. Grande parte da turbulência recente foi causada por movimentos bruscos de fundos que garantem seu lucro nas brechas abertas pelos sustos diários. Incitar uma tempestade não é nada complicado num mercado tão exíguo quanto o brasileiro. Especialmente na Bolsa, que vem encolhendo nos últimos anos, uma ou duas grandes tacadas podem arruinar o dia e jogar o índice Bovespa nas profundezas, como vem acontecendo dia sim, dia não. A brincadeira é perigosa, já que a gangorra pode parar a qualquer momento, esteja na posição em que estiver.