Gabriel Balbo

“Não vou fazer propaganda enganosa, acredite quem quiser. Se promovi tudo isso pra ela, maravilha” (sobre a moça que disse ter tido oito orgasmos com o craque)

Barcelona, na Catalunha, uma das mais belas e ricas regiões da Espanha, divide-se quando o assunto é Ronaldinho Gaúcho. A parte maior é formada por fãs enlouquecidos. A menor, também expressiva, abriga “amigos de amigos” do astro. Não é para menos. Carismático e gozador, Ronaldo de Assis Moreira, o menino que aos 15 anos vestiu pela primeira vez a camisa da Seleção Brasileira, cresceu. Aos 24, dentro e fora de campo, vive uma fase verdadeiramente encantada. Fora dos gramados, faz amigos por onde anda – não há turma de brasileiros na cidade que não tenha pelo menos “um amigo de um amigo” do craque. À frente do Barcelona, com seus malabarismos de futebol moleque, gols e dribles tão naturais quanto humilhantes, coloca-se desde já como um dos fortes candidatos ao título da Fifa de melhor jogador do mundo em 2004.

O ídolo, que tem recebido propostas milionárias para trocar de clube, virou alvo da biografia Ronaldinho, la magia de un crack, escrita pelo jornalista Toni Frieros. Mesmo assim, não abandonou a simplicidade. Ele recebeu ISTOÉ num hotel ao sul de Barcelona. Tinha deixado o estádio Camp Nou a pé, sorrindo e distribuindo autógrafos. Entre outras coisas, falou sobre sua infância, o sonho de casar e ter filhos e os 60 milhões de libras (cerca de R$ 330 milhões) que o clube inglês Chelsea teria oferecido pelos seus direitos federativos.

Brian Snyder/Reuters

“Quando meu pai morreu, tinha oito anos. Queria mais do que nunca tê-lo aqui, para ver o que eu tô fazendo. Converso com ele, dedico gols, peço conselhos”

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ISTOÉ – Como é a sua rotina?
Ronaldinho Gaúcho –
Acordo às 9h, treino até meio-dia e pouco no Camp Nou,
volto para casa e tenho o resto do dia livre. Com o tempo melhorando, dá até pra ir à praia, mas, normalmente, tenho que descansar, porque no outro dia sempre tem uma viagem ou um jogo. Tem também a correria de gravar alguma coisa. É uma propaganda, uma entrevista… Atendo muito jornalista, principalmente os da França e os do Brasil, onde joguei muito tempo. Minha irmã Deisi, que mora comigo, ajuda muito na agenda.

ISTOÉ – Quem mais vive com você?
Ronaldinho –
Dois primos, Áurea e Waldemar, e meu melhor amigo, Thiago. Isso sem falar da minha mãe, que vai e volta, e do meu irmão Assis, que jogou muita bola e é meu empresário. O barraco tá sempre lotado.

ISTOÉ – Barraco? Dizem que é uma belíssima casa…
Ronaldinho –
É simples, mas tem um espaço gostoso. Fica em Castelldefels, a 20 minutos de Barcelona. Tem quatro quartos e um lugar legal para fazer churrasco.

ISTOÉ – Ídolo do Barcelona, titular da Seleção, alvo de biografia… O que mais falta?
Ronaldinho –
Muita coisa. Conquistar tudo de novo o que eu conquistei e ganhar
tudo o que eu ainda não ganhei. O objetivo é ganhar o máximo de títulos que eu
puder como jogador.

ISTOÉ – Você se cobra muito?
Ronaldinho –
Sim. Sou determinado, mas ao mesmo tempo tranquilo. Gosto de treinar, me aperfeiçoar ao máximo. Se é pra fazer, tem que ser bem-feito. Ou, então, é melhor nem fazer, né?

ISTOÉ – Você jogou em Paris e está em Barcelona. Qual dessas cidades
o agrada mais?
Ronaldinho –
Paris era muito bom. Falando em termos de futebol, o primeiro
ano foi bom, o segundo foi melhor ainda. E depois deu. Queria algo mais. Como homem, por estar saindo do Brasil pela primeira vez, também aprendi muita coisa. Aqui é diferente. Já cheguei com outra mentalidade. O clima e a cultura são mais próximos dos nossos.

ISTOÉ – O que você fazia em Paris?
Ronaldinho –
Lá eu era mais livre. Ia pro Champs Elisée e me perdia na multidão de turistas. Quase ninguém conhecia o meu rosto. Aqui não. Em qualquer lugar tem alguém com a camisa do Barcelona, alguém pedindo autografo. É um carinho muito bom, mas que me faz perder um pouco da liberdade. Prefiro olhar para o lado bom de estar aqui. Gosto demais dessa cidade.

ISTOÉ – Você chegou sozinho, a pé. Costuma andar com seguranças?
Ronaldinho –
(Enfático) Seguranças? Eu? Não! De jeito nenhum! Ando sempre sozinho. Tranquilo. Todo mundo me trata bem demais, com carinho. Ninguém quer me fazer mal. E, depois, quanto mais a gente tenta se esconder, mais aparece. Sou o que sou e não vou mudar.

ISTOÉ – O jornal local Sports disse que tudo o que você tem de low profile o inglês David Beckham, do Real, tem de estrela. O que acha?
Ronaldinho –
Faço a minha e tá valendo. Não me privo do que gosto, mas procuro não fazer alarde.

ISTOÉ – E a bolada que quebrou o vitral em Santiago de Compostela?
Ronaldinho –
A gente tava rodando um anúncio da liga espanhola. Mandaram-me chutar a bola e eu chutei. Ainda perguntei: “Mas e se quebrar alguma coisa?” Disseram: “Pode chutar.” Chutei e quebrei o vitral da catedral. Na época, deu o maior tititi. Mas depois fiquei sabendo que já tinham quebrado o mesmo vitral várias vezes. Aí me tranquilizei.

ISTOÉ – Recentemente, Ivan Helguera, zagueiro do Real, disse que gostaria de tê-lo como companheiro de time…
Ronaldinho –
Tô muito feliz no Barcelona. Aqui também tem grandes jogadores. Vamos disputar a Liga dos Campeões na próxima temporada. Mas é bom saber que um jogador de um grande time gostaria de me ter como colega, da mesma forma que gostaria de jogar com muitos deles. Só que no Barça, para ter os melhores jogadores do mundo ao meu lado. 


ISTOÉ – Como é enfrentar os colegas de Seleção como Ronaldo e Roberto Carlos?
Ronaldinho –
Rola amizade sempre. Procuramos fazer de tudo para não cometer falta e, se não tiver jeito, para não machucar, não fazer mal. Amizade está sempre em primeiro lugar. Gosto de abraçar os companheiros.

ISTOÉ – Há pouco tempo, o jornal espanhol
El País falou do seu espírito “família”. Você é assim mesmo?
Ronaldinho –
Vivo a vida normalmente. Depois
do trabalho, gosto de estar com as pessoas
que eu mais amo: minha família e meus
melhores amigos.

ISTOÉ – Em Londres, só se fala da proposta de 60 milhões de libras (cerca de R$ 330 milhões) feita pelo Chelsea, do milionário russo Roman Abramovitch. É verdade?
Ronaldinho –
Quem confirma é o presidente do Barcelona. Disse que o Chelsea quer me levar para a Inglaterra de qualquer maneira, mas ele não tem interesse que eu saia. E, no momento, só penso em acabar bem a temporada e ajudar o Barça. Quero continuar aqui no próximo ano. Mas, como no futebol as coisas mudam rápido, a gente nunca sabe.

ISTOÉ – Um dos sonhos de Abramovitch é ver você e o Ronaldo Fenômeno
juntos no Chelsea…
Ronaldinho –
Seria um prazer jogar com ele. A cumplicidade entre a gente é maior do que tudo. Mas, como já disse, não quero sair do Barcelona tão cedo.

ISTOÉ – Quando acaba o contrato?
Ronaldinho –
Daqui a quatro anos. Ou seja, em 2005.

ISTOÉ – Como assim?…
Ronaldinho –
Brincadeira… Por enquanto, não penso em sair do Barcelona.

ISTOÉ – Vamos supor que o Barça aceitasse os 60 milhões de libras do Chelsea. Quanto iria para você?
Ronaldinho –
Sei lá. Não me preocupo com dinheiro. Tudo o que ganho dou
para a minha mãe.

ISTOÉ – É ela quem cuida do seu dinheiro?
Ronaldinho –
Cuida, não. É dela. O dinheiro que ganho dou pra ela, que faz com ele o que quiser. Não me ligo nessas coisas. Não tenho nem idéia.

ISTOÉ – Jovem, rico, famoso, com fama de conquistador… A mulherada
cai em cima?
Ronaldinho
– (Risos) Sempre fui de fazer amizade. Não sei se por esse meu jeitão despreocupado, acessível. Faço muitos amigos e amigas também.

ISTOÉ – Recentemente, você disse que sua namorada é a bola. É verdade?
Ronaldinho –
Hoje, estou casado com o futebol. Não tô namorando ninguém, mas não sou santo. Isso é claro. E não é porque eu sou assim, brincalhão, que vou sair dando em cima de todo mundo.

ISTOÉ – Uma moça em Paris tornou pública uma tórrida noite de amor em sua companhia. Entre outras coisas, revelou que foram pelo menos nove vezes seguidas, com oito orgasmos dela. Exagero ou excesso de vitalidade?
Ronaldinho –
(Risos) Não vou fazer propaganda enganosa, acredite quem quiser (pausa). Bem, foi ela que falou. Se eu promovi tudo isso pra ela, maravilha. Agora, quero saber o quanto ela se promoveu ao dizer tudo isso.

ISTOÉ – Não me deixaram pagar as fitas para esta entrevista. Disseram
que era “um orgulho” contribuir para “divulgar o melhor jogador da história
do Barcelona”…
Ronaldinho –
Isso é muito, muito bom. Já na minha apresentação, havia 30 mil pessoas. Pensei: “Meu Deus, esse é o lugar.” O que mais eu posso querer?
É pouco tempo, mas uma história legal.


ISTOÉ – Pensa em casar e ter filhos?
Ronaldinho –
Quero muito e acho que todo mundo quer. Hoje não me vejo assim, porque o futebol é minha prioridade, me consome. Não conseguiria manter compromissos, como almoçar e jantar na hora e levar as crianças pro colégio. Mas no futuro me imagino casado, com um monte de filhos, a casa cheia.

ISTOÉ – Isso tem a ver com a educação que você teve, não?
Ronaldinho –
Sem dúvida. Tenho excelentes lembranças da minha infância
e quero repetir tudo o que meus pais e irmãos fizeram de bom. Era criança
quando meu pai faleceu e até hoje não sei como foi a morte dele direito. Minha
mãe e meu irmão acabaram sendo também meu pai. Para não deixar faltar nada. Tinha oito anos quando meu pai morreu. É um lance muito mais difícil pra mim hoje do que foi quando eu era criança. Queria, mais do que nunca, ter meu pai aqui. Gostaria que ele visse o que eu tô fazendo. Sempre converso com ele, dedico gols, peço conselhos. Foi ele que me levou ao estádio do Grêmio pela primeira vez, quando eu tinha sete anos.

ISTOÉ – Desde 1982 o Brasil não tem uma geração tão rica de talentos quanto a atual. Por que esse time ainda não jogou bem nas Eliminatórias?
Ronaldinho –
O Brasil sempre teve dificuldades nas Eliminatórias. Não é coisa recente. E a falta de tempo e de entrosamento atrapalha.

ISTOÉ – Quando não está jogando, você assiste calmo às partidas da Seleção?
Ronaldinho –
É aquela coisa, né… me emociono de ver a equipe entrar em campo. Na hora do hino, me arrepio. Dá vontade de saltar, de agarrar a televisão. Procuro até nem ver se não posso jogar, para não querer entrar pela tevê.


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