Prensa Três

Desvio: ao assinar com o selo Biscoito Fino, Maria Bethânia busca independência artística

São Paulo ganhou um belo presente no ano do seu 450º aniversário. Venceu a disputa com Paris, Nova York, Joannesburgo (África do Sul), Abu Dhabi (Emirados Árabes), Cidade do México, Buenos Aires e Hong Kong e vai sediar o 1º Fórum Social Cultural. De 26 de junho a 4 de julho, o complexo do Anhembi, na zona norte da cidade, vai se transformar em uma Babel cultural por conta do evento patrocinado pela Unesco, Comunidade Européia e Ministério da Cultura. Cerca de dois mil participantes estrangeiros e três mil brasileiros, entre ministros de Estado, produtores culturais, artistas, cineastas, músicos, representantes de ONGs, presidentes de fundações e diretores de festivais internacionais, estarão na cidade discutindo novas estratégias para a cultura mundial. O objetivo é abrir espaço para a diversidade e romper o bloqueio imposto pelos países hegemônicos. “Acreditamos que podemos criar mercados alternativos para produções culturais e ainda estabelecer redes de informação”, empolga-se o presidente do Fórum, Danilo Miranda. A idéia do encontro vem sendo acalentada desde 1998. “Precisamos estimular produções culturais que muitas vezes não têm valor comercial mas têm um enorme valor estético”, complementa o diretor-executivo do encontro, o alemão Dieper Jaenicke.

hélcio nagamine

“Ficou tudo pasteurizado, como uma papinha que você come com colher, sem mastigar”, afirma Ruy Cézar Costa Silva

É consenso mundial que a cultura é uma ferramenta imbatível no processo de transformação social, sobretudo quando a intolerância é hoje uma barreira quase intransponível para a relação entre os povos. Por isso, os participantes do fórum vão discutir formas de viabilizar a integração. “Ficou tudo pasteurizado, como uma papinha que você come com colher, sem mastigar”, receita Ruy Cézar Costa Silva, um dos conselheiros do Fórum. Artistas reconhecidos pelo público, como Lobão e Maria Bethânia, estão buscando caminhos alternativos. Bethânia, por exemplo, assinou contrato com uma gravadora independente, a Biscoito Fino.

Desde que trocou o movimento estudantil, no início dos anos 80, pela militância cultural, Ruy Cézar já rodou o mundo tentando montar uma rede de artistas independentes. A ONG que dirige, a Casa da Magia, tem um banco de dados com 60 mil grupos e artistas do mundo todo. “Os americanos se acham tão bons que acreditam que todos os outros países deveriam se submeter à sua indústria cultural. Precisamos romper com esse círculo vicioso e dar espaço para os produtores culturais alternativos de várias partes do mundo”, analisa Ruy Cézar. Os representantes dos vários países fizeram seu dever de casa ao longo dos últimos meses. No Brasil, reuniões preparatórias vêm sendo realizadas desde o começo do ano. Nos próximos dias 19 e 22, será realizado o último desses encontros, no Rio de Janeiro.