Hélcio Nagamine

Futuro: tucanos pesos pesados fazem a corte a Serra, mas não tiram os olhos da sucessão presidencial daqui a dois anos

Demorou, mas não sem propósito. Antes de lançar-se candidato à sucessão da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), o presidente nacional do PSDB, José Serra, quis ter a certeza de que sua principal adversária estaria enfraquecida devido aos tropeços do governo Lula. Pacientemente, esperou outro forte adversário, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP), cair em desgraça. A abertura das caixas com mais de 20 quilos de documentos, que vieram de Genebra (Suíça), mostram que o dono de 23% dos votos dos paulistanos, segundo pesquisas, tem uma conta milionária (US$ 200 milhões), em Jersey, paraíso fiscal no Canal da Mancha. Por fim, coincidiu o lançamento oficial de sua postulação, na quinta-feira 13, com a veiculação, em cadeia nacional de rádio e tevê, do programa político do partido, que desancou as promessas de campanha do PT. Cada passo
foi de caso pensado e com um único propósito: antecipar 2006, dentro e fora do PSDB. Partindo da cidade de São Paulo, a terceira maior do mundo e a mais emblemática para o PT, Serra viabiliza a si e ao seu partido como uma opção anti-Lula já em 2004. Mas até lá, muita água vai correr embaixo da ponte tucana, embolando interesses de governadores como Geraldo Alckmin (São Paulo), Aécio Neves (Minas) e da estrela maior, o candidatíssimo à cadeira de Lula, Fernando Henrique Cardoso. As más línguas dizem que manter Serra na prefeitura é tirá-lo do caminho de duas disputas: a do governo do Estado de São Paulo e da Presidência da República. É ter paciência para ver.

De elemento desagregador do partido, Serra transformou-se em elo forte dos tucanos. O presidente estadual do PSDB, José Aníbal, exaltou a capacidade dele
de disseminar ânimo a companheiros que andavam com o bico baixo. Ave por ave, os tucanos mais pareciam pinto no lixo com a decisão anunciada de Serra em disputar São Paulo com Marta. “A decisão motivou o lançamento de candidatos em municípios importantes, como Belo Horizonte e Belém.” O frenesi é tanto que até no Rio de Janeiro, onde estava fechado um acordo com o PFL de César Maia, tucanos como Otávio Leite, Luiz Paulo Corrêa da Rocha e Eduardo Paes tentam alçar um vôo solo. Na quinta-feira 13, Serra reuniu as principais lideranças do partido, entre elas os governadores Alckmin, Aécio Neves, Marconi Perillo (Goiás), sem contar com os senadores Tasso Jereissati (CE), ex-desafeto, e Arthur Virgílio (AM), além de deputados federais e estaduais.

Foi com uma série de críticas ao governo Lula e à administração de Marta que Serra justificou seu sim à candidatura: “Tirar São Paulo do caminho errado é uma contribuição fundamental para o Brasil. Tenho andado pelos Estados e ouvido pessoas perplexas indagando: o que está acontecendo com o Brasil? Por que o País está parado, o desemprego está aumentando, a renda está caindo, as políticas sociais retrocedendo? Os brasileiros estão cada vez mais inquietos, descontentes e frustrados. A esperança se transformou em decepção”, falou em seu discurso, já nacionalizando o conteúdo da campanha. FHC não compareceu à cerimônia, mas mandou uma mensagem, lida pelo presidente municipal do PSDB, deputado Edson Aparecido: “Serra é o caminho de São Paulo.”

Duro na queda: aspesar do escândalo, Paulo Maluf dobra partido, entrega passaporte e anuncia que não sai da disputa pela prefeitura

Aécio Neves e o líder tucano no Senado, Artur Virgílio, fizeram discursos inflamados. “A eleição de Serra será o início de um processo que levará o PSDB de volta ao poder central. O Brasil inteiro vai acompanhar o debate em São Paulo”, disse Aécio. Já Virgílio, no seu melhor estilo, preferiu um desafio: “Que Lula tenha a coragem de botar a cara do lado desta prefeita. Podem vir os dois juntos que nós vamos vencer.” Comemoração e bravatas à parte, o PSDB está trabalhando pesado para aumentar o arco de alianças. Investe pesado pelo apoio do PFL, que lançou o deputado José Aristodemo Pinotti e do PDT, que tem como candidato em potencial Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical. Ambos negam a possibilidade de aliança no primeiro turno, mas nos bastidores existe uma forte inclinação das principais lideranças de sair de braços dados com Serra.

Enquanto isso, do outro lado do ringue correm atrás do prejuízo o PT e o PP de Maluf. Rui Falcão, candidato a vice escolhido por Marta, saiu de férias para tentar trazer para o seu lado o PMDB, uma vez que a candidatura do deputado Michel Temer é vista como força auxiliar de Serra. Por outro lado, o PT ficou aliviado com as manobras de Maluf para manter-se firme, apesar das denúncias, na disputa. Depois de escapar de uma suspensão, pedida ao diretório nacional por deputados não alinhados, Maluf dobrou a legenda e antecipou o anúncio de sua candidatura. Ele entregou o passaporte à PF, a fim de evitar um pedido de prisão preventiva, e tocou a bola para frente: “Nem Jesus Cristo teve unanimidade. Tenho o apoio de 90% do meu partido para entrar na disputa pela Prefeitura de São Paulo”, afirmou.