O site da BBC publicou, a respeito da catastrófica reportagem do The New York Times sobre o presidente Lula, que provavelmente ela foi escrita pelo correspondente Larry Rohter enquanto ele tomava uma caipirinha em Copacabana. Certamente o jornalista não estava bêbado, mas a publicação da matéria e a desastrosa decisão do governo brasileiro de não renovar o visto de permanência do jornalista estão causando uma ressaca monumental.

A dor de cabeça começou quando o texto foi publicado na edição de domingo 9 do jornal americano, que relatava uma inexistente preocupação dos brasileiros com o hábito de beber de Lula e questionava se o tal suposto hábito não estaria comprometendo sua performance como presidente da República. A matéria, bastante ofensiva, se baseou em informações das colunas dos jornalistas Cláudio Humberto Rosa e Silva e Diogo Mainardi e em declarações do presidente do PDT, Leonel Brizola, hoje um desafeto de Lula. Considerada pelo governo lesiva aos interesses brasileiros, a reportagem pegou mal mesmo foi para o seu autor e conseguiu a rara proeza de colocar a oposição ao lado do governo. Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa de Lula, e, pela primeira vez, os governistas tiveram a agradável sensação de ver a verborragia do líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, ser usada em sua defesa. FHC disse que conhece Lula há 30 anos e “não vejo nenhuma razão para o jornal fazer tal suposição”.

O governo bem que precisava dessa coesão nacional. Depois de um primeiro ano de lua-de-mel com a opinião pública, 2004 estava se configurando como uma reversão de expectativas. Acusado de falta de ousadia, lentidão e não-cumprimento das promessas de campanha, o governo ainda sofre o ataque natural de véspera de eleições municipais. Mas o que é bom durou pouco. Lula conseguiu atrair para si a ira antes reservada ao The New York Times. E ela veio redobrada. O presidente decidiu não renovar o visto de permanência do jornalista jogando combustível em uma fogueira que estava sendo devidamente apagada com muito mais competência pela unanimidade da opinião pública.

No final de 2002, já eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um de seus discursos, disse que assumiria sem medo seus eventuais erros futuros. E este foi, com certeza, um erro de avaliação, em que a emoção e a justa indignação tomaram o lugar da razão na hora de decidir.