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Elmaleh: de falso exilado chileno a “secretária”

O rapaz moreno de olhos faiscantes, que desembarca na rodoviária parisiense, parece um lhama psicodélico. De poncho e gorro de lã cobrindo as orelhas, o jovem magrebino, ou seja, do norte da África, tenta se passar por um refugiado da ditadura de Pinochet sem ter a mínima noção de que o regime militar chileno acabou há anos. Mas logo o espectador irá descobrir que o imigrante ilegal chama-se Choukri, aliás Chouchou, e que suas atitudes e intenções são completamente diferentes das de um refugiado político. Daí para a frente não faltarão gargalhadas durante a projeção de Xuxu (Chouchou, França, 2003), em cartaz em São Paulo, comédia dirigida pelo argelino Merzak Allouache, que foi sensação na França, sendo, inclusive, premiada com um César, o Oscar francês, para Gad Elmaleh no papel de Chouchou. É que, por traz do deboche, a história acaba se tornando um libelo contra a intolerância nas suas variantes.

Conforme vai se enturmando, Chouchou arruma emprego como “secretária” da terapeuta Nicole Milovavovich (Catherine Frot), que vive sendo perseguida por
um ex-paciente. Também reencontra amigos de sua cidade natal, entre eles
Djamila (Yacine Mesbah), a quem carinhosamente chama de hipopótamo, e Vanessa (Arié Elmaleh), seu sobrinho, todos imigrantes ilegais, porém felizes
com as farras e os shows noturnos numa boate de travestis. Quando menos
se espera, a sorte sorri ainda mais para Chouchou com a aparição de Stanislas (Alain Chabat), um cinquentão rico, de bigode, por quem ele se derrete. Pode
parecer enredo apropriado para os admiradores de Priscila, a rainha do deserto.
Mas, apesar dos muitos ingredientes disparatados, o diretor Allouache fez um filme para ser curtido por todas as platéias.