Um certo baixo-astral anda tomando conta do País nos últimos tempos. As notícias não são nada positivas: desemprego em alta, tensões econômicas, desencanto político, violência descontrolada, tragédias as mais variadas. O tão propalado bom humor do brasileiro é posto à prova todos os dias, até mesmo em situações corriqueiras, como o trânsito caótico dos grandes centros urbanos ou a fase difícil da maioria dos principais clubes de futebol.

Mas, como dar a volta por cima é uma máxima aplicada pelo povo desde os tempos de Cabral, os repórteres de ISTOÉ foram procurar as novas armas do eterno embate entre “o país do futuro” e “a dura realidade”. Como num manual de auto-ajuda cívica, descobriram que alguns ingredientes são óbvios. É preciso determinação, criatividade, paciência, otimismo, bom humor e uma boa pitada de fé. Tudo somado dá a receita para enfrentar a crise de desânimo com a situação geral e com os dilemas individuais. A médica Ana Beatriz Barbosa e Silva constata – na reportagem de capa que começa à pág. 70 – que alguma coisa vem mudando: “Em vez de depender de sonhos coletivos, de utopias, de salvadores da pátria, o brasileiro decidiu apostar mais em si.” O antropólogo Gilberto Velho acrescenta: “A sociedade civil tem que ser mais participante, lutar mais por sua cidadania, pressionar os governos a praticar a democracia.” Ou seja, do ponto de vista individual ou coletivo, a saída pode estar numa espécie de reengenharia em torno de uma palavra: mobilização. Tanto pode ser em busca da motivação para estudar mais e encontrar um trabalho ou melhorar no emprego, como também de participação mais ativa na luta pela solução dos problemas coletivos.

Nada mais eficiente nesses momentos de desencanto do que um bom exemplo de superação. O de Luciana Novaes é dos mais comoventes. Tetraplégica aos 20 anos, após ser atingida por uma bala perdida, a estudante, mesmo depois de um ano na UTI, comemora pequenas vitórias, como falar através de um respirador artificial. E, sem perder a garra, ensina: “Não adianta ficar sentada chorando, nem parada esperando o governo fazer alguma coisa. Não posso sair daqui, mas posso fazer a diferença, mesmo em cima de uma cama.” Salve Luciana, a que faz a diferença.