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Outsider: arte e tecnologia com aparência artesanal na luminária belga da Materialise

Cores vibrantes, estampas florais ou geométricas, pés palitos, cromados. Se depender do sonho dos fabricantes de móveis que fizeram parte da 43ª edição do Salão Internacional do Móvel de Milão, ocorrida de 13 a 19 de abril, a tendência de consumo no próximo ano será um revival dos anos 50, 60 e 70. Essa é apenas uma das informações que o arquiteto João Armentano, a designer Baba Vacaro, do estúdio Design Mix, de São Paulo, os sempre surpreendentes irmãos Campana e Piero Lissoni, consagrado mestre do móvel italiano, apresentaram no seminário Notícias de Milão 2004, realizado pelo Senac-SP no Hotel Unique, em São Paulo, na terça-feira 4. “É uma profusão de cores – laranja, amarelo, verde – e estampas. Mas isso não quer dizer que o ambiente tem de ser inteiro no gênero. Não se pode pensar decoração como moda. Pequenos detalhes ou algumas peças em um ambiente dão um toque especial e não ficam datadas”, orienta Armentano.

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Ousadia: na cadeira Corallo, da Edra, toda a originalidade dos irmãos Campana, que já fazem escola fora do Brasil. O móvel é feito em metal com pintura epóxi

Como nascem as tendências foi exatamente o tema abordado por Piero Lissoni. O especialista italiano criou o estúdio Lissoni Associati em 1986 e hoje é considerado um dos mais influentes criadores de móveis italianos. Mas a mega e mais importante exposição do cenário da decoração congrega em seus 20 pavilhões fabricantes de móveis do mundo inteiro. Isso sem contar o salão destinado a novos talentos que este ano se abriu para 400 jovens profissionais. Os designers, no entanto, se agitam em busca do novo. E nessa maratona, é indispensável dar uma olhada nos eventos paralelos, nos quais alternativos mostram suas criações experimentais e investigativas. Só este ano houve 270 eventos do tipo espalhados pela cidade. “É uma loucura. Esse circuito alternativo já é obrigatório. São criações descoladas, da garotada outsider”, conta Baba Vacaro.

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Maestria: formas geométricas na cadeira de Piero Lissoni, um dos mais influentes criadores de móveis italianos

Chamou a atenção da designer o uso da tecnologia na busca do natural. Isso demonstra que a valorização dos elementos orgânicos e das cores e fibras continua em alta. Uma luminária belga, por exemplo, produzida por uma máquina normalmente usada para fazer protótipos de produtos, traz uma aparência artesanal. “Seus anéis finos e coloridos parecem estar voando. Parece ser feito à mão. No entanto, o produto é criado no computador e ele sai pronto na máquina, com toda a sutileza e perfeição de formas. Acho que é um recurso acessível que, num futuro próximo, será usado aqui também”, revela Baba. Remeter à natureza mostra-se uma necessidade para a nova geração de designers. “Até mesmo na grande indústria, vi muitos lançamentos com formas arredondadas, sinuosas, amigáveis e mais naturais. São produtos de tecnologia com cara de artesanato”, conta ela.

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Vibração: as cores fortes estão em alta também no sofá de tecido amassado do estúdio Sponge, da Holanda

Não é de estranhar o sucesso da dupla Fernando e Humberto Campana, que já está fazendo escola mundo afora. Em pouco mais de uma década, eles conquistaram o mercado internacional com suas criações inventivas e já expuseram até no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). Ganharam fama transformando cerdas de vassouras, papelão ou mangueiras de plástico em móveis e objetos de decoração. Eles despertaram o mundo para a riqueza da criatividade brasileira e foram mais uma vez festejados na feira. Lançaram, pelas empresas italianas Edra e Alessi, a cadeira Corallo, feita de metal e pintura epóxi e a coleção de fruteiras Blow up, em aço inoxidável, que apresentam linhas suspensas como uma imagem de explosão congelada no espaço. “Nunca seguimos tendências. Quando começamos, todo mundo dizia que o que fazíamos era escultura e não design. Fomos aconselhados a mudar de área. Agora vemos muita criação que lembra o nosso estilo”, analisa Humberto Campana, 51 anos. Ele e Fernando, 43, hoje produzem arte em grande escala. Assim como os irmãos, as empresas com as quais trabalham se preocupam em lançar conceitos, em propor o novo. “Nosso trabalho é baseado em nossa cultura e é isso que agrada aos estrangeiros. Retratamos o artesanato brasileiro, dando-lhe um olhar elegante. O trabalho manual deve ser valorizado. Afinal, o Brasil não é uma potência tecnológica. É um país de mão-de-obra, de mãos querendo trabalho”, defende Humberto