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Alguns dias atrás, notas publicadas na imprensa davam conta de que Dilma Rousseff havia convocado um cidadão para uma audiência a portas fechadas em Brasília. Conhecida pela sua objetividade às vezes exagerada em reuniões, a presidenta ficou por uma hora e meia ouvindo atentamente as opiniões e ideias de um senhor de 88 anos. Hoje mais lembrado por ser o pai de Eike – o mais rico e talvez o mais controvertido empreendedor brasileiro –, esse homem é na verdade pai de outros seis filhos e também da companhia Vale do Rio Doce, da relação diplomática e econômica do Brasil com o Japão e de Carajás, apontado como o primeiro empreendimento autossustentável do mundo. Graças a sua visão estratégica e capacidade de realização, frequentou a lista de ministeriáveis de todos os presidentes brasileiros das últimas cinco décadas, tendo, de forma mais ou menos oficial, funcionado como conselheiro de quase todos eles, incluindo agora a primeira mandatária do sexo feminino. Conceitos como sustentabilidade, gestão humanizada e moderna de pessoas e outros que começam só agora a frequentar capas de livros e páginas de revistas de negócios foram há muito antecipados por esse senhor e por suas equipes, que desde cedo apostaram na noção de interdependência como ideia estruturante para qualquer projeto empreendido pelo ser humano.

“O que me impulsiona e me dá uma força muito grande é o outro. É saber que sempre posso fazer alguma coisa para alguém.” Assim Eliezer Batista explica sua visão sobre o trabalho, sempre encarado sob a perspectiva do bem comum, do serviço ao interesse coletivo, da geração de significado. Eliezer recorre a outra de suas analogias para expor o que, na sua opinião, é a maior ameaça à sociedade contemporânea, que considera “em decomposição”. “Quando chega ao máximo de seu egoísmo, o homem se torna um pavão de favela: só ele muito bem e o resto na miséria”, diz.

Quando indagado sobre a riqueza de seu filho Eike como algo diametralmente contraditório ao seu pensamento, ele diz: “Eike também não tem isso como prioridade. Quando ele fala em riqueza, refere-se muito mais a criar riqueza e não a ficar rico. Tanto que ele poderia estar vivendo em Paris, por exemplo, mas tudo que tem está investido em empreendimentos nacionais que, por sua vez, geram empregos no Brasil. É uma das pessoas mais generosas que conheço, não tem nada de avarento”, diz, rebatendo os comentários sobre o excesso de acumulação ostentado pelo filho e outros que afirmam que boa parte da fortuna do dono do grupo EBX teria origem em supostas indicações de reservas minerais desconhecidas recebidas do pai.

Na rara entrevista publicada na revista “Private Brokers” e com continuação na edição de outubro da “Trip”, que gerou as imagens e depoimentos antecipados aqui, Eliezer reforça o que pensa sobre a inutilidade dos excessos de acumulação material. Do alto das quase nove décadas de vida, reflete: “De que adianta? Se a pessoa conseguir se despir do egoísmo, a partir de certo ponto em que garanta um nível de conforto razoável, ela terá mais prazer em beneficiar o outro do que a si própria. Entende? É a sensação de justificar sua presença aqui neste mundo que não conhecemos e nunca vamos conhecer, mas que nos esforçamos para compreender. O que eu estou fazendo é aquilo que consigo compreender.”