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A encarniçada política venezuelana vive dias agitados com a proximidade da eleição presidencial no domingo 7. Enquanto o presidente Hugo Chávez e o seu principal adversário, Henrique Capriles, trocam acusações em discursos e nas redes sociais, os confrontos entre apoiadores dos dois candidatos deixam um saldo de dezenas de feridos pelas ruas do país. Tamanho clima de rivalidade se explica pelo ineditismo desse pleito. Acostumado a triunfar sobre os opositores desde que chegou ao poder em fevereiro de 1999, Chávez enfrenta agora uma disputa acirrada na tentativa de conquistar o terceiro mandato consecutivo. A vantagem dele sobre Capriles, que é ex-governador do Estado de Miranda, caiu para cerca de dez pontos percentuais, segundo levantamento divulgado pelo Instituto Datanálisis. Nesta reta final da eleição, outras pesquisas até colocam Capriles na dianteira. Em meio a uma sucessão de problemas, Chávez sofre com a debandada de simpatizantes e, como resposta, mostra que não poupará esforços para vencer a eleição, à qual se refere como “Batalha de Sete de Outubro”.

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OPONENTE DE PESO
Adversário de Hugo Chávez, Henrique Capriles pode
ser a grande surpresa da eleição na Venezuela

Na tentativa de se manter no poder a qualquer custo, Chávez recorreu a baixarias e passou a atacar em várias frentes. Do mesmo modo que fechou veículos de comunicação críticos a seu governo, o presidente venezuelano tem interrompido entrevistas e transmissões de eventos com o adversário Capriles em emissoras de rádio e televisão, convocando a cadeia nacional para pronunciamentos sobre temas como o início do ano letivo. No Congresso, aliados divulgaram vídeos em que um integrante da campanha de Capriles aparece num enredo de corrupção. Nos discursos aos quais se refere ao oposicionista apenas como “majunche” (perdedor), o presidente projeta desconfiança sobre o rival acusando-o de ter um pacote oculto neoliberal a ser colocado em prática se ganhar a disputa nas urnas. “Tanto oposição como o governo sabem que o voto da maior parte do eleitorado está vinculado à manutenção dos benefícios sociais”, afirma o venezuelano Rafael Villa, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. Aos mais abastados, o comandante bolivariano, que nunca aposentou a farda verde-oliva, ressalta que sua vitória garantiria a estabilidade do país. Em uma espécie de ameaça velada, diz ainda que a eles não convém uma guerra civil.

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Apesar da ofensiva de Chávez, analistas políticos consideram imprevisível o resultado da disputa nas urnas. Mais de um em cada dez eleitores ainda se mostra indeciso ou prefere não revelar o voto, que é opcional pela legislação. “Chávez permanece na liderança. Existe, porém uma tendência favorável a Capriles”, declarou Luis Vicente León, diretor do Instituto Datanálisis. “O oposicionista foi o único a crescer durante toda a campanha”, comenta. Candidato pela Mesa de Unidade Democrática (MUD), uma frente composta por mais de uma dezena de legendas e organizações sociais, Henrique Capriles, 40 anos, investe no corpo a corpo como arma de campanha. Visitou mais de 250 cidades em 20 Estados em seu périplo eleitoral. Em declarações, o oposicionista diz que colocará fim ao que considera uma série de desmandos, erros e retrocessos promovidos pelo chefe da nação. Ao mesmo tempo, faz questão de garantir a permanência dos programas sociais criados pelo atual governo.

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DISPUTA ACIRRADA
Confronto entre militantes durante a campanha eleitoral deixou
um saldo de dezenas de feridos nas ruas da Venezuela

Além da incerteza quanto ao seu real estado de saúde, Hugo Chávez amarga o desgaste político de ocupar o poder por mais de uma década e o descontentamento popular com áreas como a segurança pública. A Venezuela atravessa uma epidemia de crimes. A criminalidade figura em pesquisas na primeira posição entre as preocupações dos seus aproximadamente 29,7 milhões de habitantes. Quinto maior produtor de petróleo e dono das maiores reservas mundiais do óleo, o país também enfrenta obstáculos na área econômica. Não conseguiu transformar os petrodólares em sinônimo de prosperidade financeira.  

Fotos: Juan Barreto/afp photo; Carlos Garcia Rawlins/REUTERS; SHARON STEINMANN/EFE