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A indústria da beleza está à procura de substâncias inovadoras para preservar a pele dos malefícios causados pela exposição ao sol. A mais recente novidade nesse campo é a inclusão, nos protetores solares, de duas enzimas capazes de restaurar partes do DNA afetadas pela radiação ultravioleta emitida pelo sol. A primeira é a fotoliase, naturalmente encontrada em plantas, peixes, répteis, anfíbios e marsupiais. A segunda é a T4 endonuclease V, isolada originalmente da bactéria Escherichia coli. Protetores solares contendo as substâncias já estão sendo vendidos em países como Itália, Espanha e México.

No Brasil, acaba de ser lançada a Eryfotona AK-NMSC, bloqueador FSP 100, em creme, que contém a fotoliase. A empresa fabricante, a espanhola Isdin, está desenvolvendo formulação em gel, mais fácil de espalhar na pele. “Acho inovador associar a fotoliase a um protetor solar”, afirma a dermatologista Ana Lúcia Récio, de São Paulo. “A pele fica beneficiada pela fotoproteção e pela reparação dos danos.”

As enzimas atuam corrigindo erros induzidos pelos raios ultravioleta na associação de pares de aminoácidos (pedaços de proteínas) que se formam para compor o código genético presente no interior de cada célula. O organismo possui mecanismos que fazem as reparações necessárias. Porém se os estragos forem maiores e mais rápidos do que a capacidade de regeneração, o corpo não consegue sanar todos os erros. Neste caso, a consequência é o aparecimento de lesões pré-malignas, como a queratose actínica (há surgimento de manchas ásperas), e também malignas.

É aí que a fotoliase, por exemplo, se torna útil. “Ela é um mecanismo complementar para reforçar a ação do sistema imunológico e reverter os erros”, afirma o dermatologista Francisco Paschoal, da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, especialista em câncer de pele. O médico conduz um estudo sobre o Eryfotona com 50 pacientes de pele clara que possuem queratose actníca. Patrocinado pelo Isdin, o trabalho está sendo feito no Hospital do Câncer A. C. Camargo, de São Paulo. Em alguns casos, o uso do produto reverteu a lesão.

Na literatura científica, há evidências de eficácia semelhante de produtos com a enzima T4 endonuclease V. Uma revisão dos artigos publicados sobre o tema feita pela Universidade de Alabama (EUA), por exemplo, concluiu que a aplicação tópica de cremes com a enzima reduziu a incidência de queratose actínica em 68%. 

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