Lembro-me claramente do "sinal" que me fez decidir mudar de vez para a Bahia.

Embora já viesse amadurecendo a idéia por alguns anos, certamente sob influência do potencial Armageddon financeiro que parecia se aproximar no final de 2008, três amigos meus, que não se conheciam, me contaram a seguinte história:

"Um executivo de férias na praia observava um pescador sobre uma pedra fisgando alguns peixes com equipamentos bastante rudimentares: linha de mão, anzol simples, chumbo e iscas naturais.

O executivo chega perto e diz:
– Bom dia, meu amigo, posso me sentar e observar?

O pescador:
– Tudo bem, doutor.

O executivo:
– Poderia lhe dar uma sugestão sobre a pesca?

– Como assim? – Respondeu o pescador.

– Se você me permite, eu não sou pescador, mas sou executivo de uma multinacional muito famosa e meu trabalho é melhorar a eficiência da fábrica, otimizando recursos, reduzindo preços, enfim, melhorando a qualidade dos nossos produtos. Sou um expert nessa área e fiz vários cursos no exterior sobre isto – disse o executivo, entusiasmado com sua profissão.

– Óxi, doutor, claro! – Disse calmamente o pescador.

– Olha, estive observando o que você faz. Você poderia ganhar dinheiro com isso. Vamos pensar juntos. Se você pudesse comprar uma vara de pescar com molinete, poderia arremessar sua isca para mais longe, assim pescaria peixes maiores, certo? Depois disso, você poderia treinar seu filho para fazer este trabalho para você.

– Quando ele se sentisse preparado, você poderia comprar um barco motorizado com uma boa rede para pescar uma quantidade maior e ainda vender para as cooperativas existentes nos grandes centros. Depois, você poderia comprar um caminhão para transportar os peixes diretamente, sem os intermediários, reduzindo sensivelmente o preço para o usuário final e aumentando também a sua margem de lucro. Além disso, você poderia ir para um grande centro para distribuir melhor o seu produto para os supermercados e peixarias. Já pensou no dinheiro que poderia ganhar? Aí você poderia vir para cá como eu vim, descansar e curtir essa paz, esse silêncio da praia, essa brisa gostosa…

– Mas isso eu já tenho hoje! – respondeu o pescador, olhando fixamente para o mar.

Eu já conhecia a história. Mas o fato de três pessoas terem me contado na mesma semana sinalizou que estava na hora de seguir meu sonho.

Nesta semana postei uma foto no Facebook mostrando o caminho que faço para ir trabalhar todos os dias. Para minha surpresa, a maioria dos comentários foi na linha "que inveja" ou "queria poder fazer o mesmo".

Por curiosidade, conversei com algumas pessoas que haviam feito esses comentários. Expliquei um pouco como era a vida aqui, sem grandes restaurantes, shoppings com cinemas que tem poltronas e (excelentes) restaurantes sem ar condicionado.

Quase todos "desistiram" na hora da idéia de se mudar da "cidade grande". 

A maioria das pessoas desconhece do quanto se precisa abdicar para viver o sonho.  Querem viver o papel do executivo e do pescador. Infelizmente os dois não cabem na mesma vida.

Escolha o papel que lhe faz feliz. Porque a gente só leva desta vida a vida que a gente leva.