Cigarro, colesterol alto e sedentarismo estão entre os principais fatores de risco para a ocorrência do infarto. Porém, uma pesquisa feita pelo Instituto do Coração (Incor), de São Paulo, inclui mais um integrante nessa lista de perigos ao coração. Os novos inimigos são duas bactérias transmitidas pelo ar. Os microorganismos inflamam as placas de gordura responsáveis pelo entupimento das artérias e também causam inflamação de toda a parede do vaso sanguíneo. Dessa forma, provocam um dano maior no órgão, aumentando ainda mais as chances
de um infarto.

Foram dois anos de estudo para chegar a essa conclusão. Os pesquisadores examinaram o coração de 40 pacientes falecidos. Os cientistas retiraram e analisaram partes de coágulos responsáveis pelo entupimento dos vasos. A equipe encontrou uma grande quantidade de dois tipos de bactéria: Chlamydia pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae. A hipótese para explicar a presença do Mycoplasma é a de que esse agente se alimente das placas de gordura e, por causa disso, migre para as artérias entupidas. Em relação à Chlamydia, ainda não se tem explicação para sua ocorrência nos coágulos. Os pesquisadores acreditam que os prejuízos ao coração sejam resultado da ação dos dois microorganismos. “Juntas, as bactérias inflamam as placas de gordura, causando sua ruptura e, consequentemente, entupimento das artérias. Isso pode levar ao infarto”, explica a patologista Maria de Lourdes Higuchi, integrante da equipe que realizou os estudos.

A descoberta da influência das bactérias nos problemas cardíacos é a confirmação de uma suspeita investigada por cientistas do mundo todo. Por enquanto, ainda não se sabe se toda pessoa portadora desses agentes está sujeita a ter um infarto ou se o risco existe apenas para aquelas que já têm acúmulo de gordura nas artérias. Os pesquisadores também não sabem dizer se, para prevenir os estragos, bastaria tomar antibióticos. Até porque não se sabe se as drogas existentes seriam eficazes para combater as bactérias já instaladas no coração. Porém, é possível dizer que o trabalho dos brasileiros contribuirá para melhorar o combate às doenças cardíacas. “A descoberta pode levar a novas técnicas de prevenção e tratamento”, afirma Maurício Wajngarten, cardiologista geriátrico de São Paulo. O especialista tem razão. Se for portador das bactérias, o indivíduo poderá ficar mais atento à saúde de seu coração, já que elas representam mais um fator de risco.

A equipe do Incor também investigou se outras doenças cardíacas podem estar ligadas à presença dessas bactérias. E o resultado foi positivo. É o caso da estenose aórtica (endurecimento da válvula aórtica, estrutura que permite ao coração bombear sangue para o organismo, impedindo a volta do líquido). O problema surge devido à degeneração dessa parte do órgão em consequência do envelhecimento. Geralmente, acomete cerca de 10% das pessoas a partir dos 60 anos e os sintomas são falta de ar e tontura, podendo levar à morte súbita. Os estudiosos retiraram parte da válvula danificada de pacientes submetidos à cirurgia para correção do problema e analisaram o material. Eles detectaram a presença da Chlamydia e do Mycoplasma nas regiões danificadas ao redor da válvula. Assim como no caso do infarto, os microorganismos agem de forma semelhante. Inflamam o local e obstruem ainda mais a região.