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O magnata do México começou a ganhar dinheiro quando criança ao vender doces a primos e irmãos nos almoços de domingo

Mais um capítulo da triste história recente da Embratel, ícone máximo das telecomunicações brasileiras, foi escrito esta semana. Um juiz de Nova York selou a venda do controle da empresa, líder nas ligações de longa distância no Brasil, para o mexicano Carlos Slim, dono da Telmex. Ele vai desembolsar US$ 400 milhões e assumir uma dívida de US$ 1 bilhão. Slim se comprometeu publicamente a manter a identidade da companhia e a facilitar o acesso de autoridades brasileiras a dados estratégicos que navegam nas redes da companhia, como o posicionamento de satélites e comunicações militares.

Críticas – A venda foi selada em Nova York porque, em 1998, a companhia
passou para o controle americano. O governo brasileiro embolsou US$ 2,3 bilhões na venda ao grupo Worldcom (depois de uma fusão, passou a ser conhecido como MCI). Em novembro, a Embratel foi colocada oficialmente à venda, já que os americanos se enredaram na onda de fraudes corporativas do início dos anos 2000 e permaneceram em estado de concordata até a semana passada. Os US$ 400 milhões que valeram a Embratel servirão para tapar um pequeno buraco das mutretas contábeis do grupo com sede em Nova York. As dívidas somam
impagáveis US$ 41 bilhões.

A venda foi muito criticada, especialmente por um grupo formado pelas operadoras de telefonia fixa brasileira – todas na ambígua posição de clientes e concorrentes
da Embratel –, que se uniram para arrematar a empresa. A oferta da Calais – a identidade conjunta da Telefônica, da Brasil Telecom e da Telemar adotada para
a operação – era US$ 70 milhões superior. Os americanos preferiram abraçar a oferta menor do magnata mexicano por temerem dificuldades futuras se as teles
que operam a telefonia fixa no Brasil fizessem a compra. De fato, se consumado o negócio, começaria uma peleja inédita junto aos órgãos de regulação da concorrência.

Conflito – Uma briga que seria desigual, como revelou o jornal Folha de S.Paulo
no domingo 25. Documentos apreendidos na mesa de um vice-presidente da Telefônica davam conta dos planos do trio em alinhar os “preços pelo teto”.
Ou seja: com o controle partilhado da Embratel, Telefônica, Telemar e Brasil
Telecom teriam o poder de cobrar as tarifas máximas permitidas de seus consumidores. O mesmo documento dizia que o ganho com a operação seria de
R$ 750 milhões, o que explicaria a diferença da oferta da Calais para o lance vencedor de Slim. O executivo da Telefônica (des)classificou a documentação apreendida como “o lixo do lixo do lixo”. A papelada foi recolhida em 5 de abril, por causa de outro imbróglio envolvendo a Telefônica. Um empresário do setor acusa a empresa de ter falido por obra da companhia.

Surgida em 1965 para conectar os mais de 1,3 milhão de telefones instalados no Brasil que pouco se comunicavam, a Embratel sofre altos e baixos desde a privatização do setor, em 1998. Rumores de troca de controle emergem praticamente desde que a companhia foi vendida. A empresa, que transmitiu aos brasileiros a Copa do México, em 1970, numa operação sofisticadíssima para a época, agora tem seu cérebro instalado lá perto do glorioso Estádio Azteca, na Cidade do México.