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DESAFIO
No Ministério da Cultura, Marta Suplicy já trabalha para ampliar investimentos

Desde que deixou a Prefeitura de São Paulo em dezembro de 2004, após perder a reeleição para o tucano José Serra, Marta Suplicy trabalha para recuperar o seu fôlego político. Alçada a ministra do Turismo no governo Lula, teve uma gestão discreta, não condizente com a sua trajetória. Como senadora eleita em 2010, fazia um mandato comum, apesar de ocupar a vice-presidência da Casa, até a última semana. Na quinta-feira 13, porém, Marta recebeu oficialmente uma nova chance para voltar a figurar entre as principais estrelas petistas. Passou a integrar o primeiro escalão da presidenta Dilma Rousseff, substituindo no Ministério da Cultura a desgastada Ana de Hollanda. O principal desafio de Marta Suplicy será saber usar o seu capital político para conseguir atrair recursos e solucionar problemas de um ministério que sempre sofreu pela escassez de verbas para investimento. Nesse cenário, a sorte dela e da pasta estão intrinsecamente ligadas. E, como se pôde depreender das primeiras ações de Marta, a petista sabe que chegou a hora da verdade para ela.

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AFINADAS
Marta Suplicy e a presidenta Dilma Rousseff demonstram sintonia

Antes mesmo de assumir o cargo oficialmente das mãos de Dilma Rousseff, Marta Suplicy se movimentou para mudar o panorama da Cultura no País. Na quarta-feira 12, trabalhou nos bastidores para que os colegas de Senado desengavetassem e aprovassem por unanimidade em dois turnos a Proposta de Emenda à Constituição que cria o Sistema Nacional da Cultura. A ex-prefeita de São Paulo era relatora da proposta. O texto foi aprovado e seguiu para promulgação da presidenta da República. Trata-se de uma antiga reivindicação do setor. Além de ampliar progressivamente os recursos investidos em projetos culturais, o projeto organiza a gestão de políticas públicas da área em diferentes esferas de poder. No mesmo dia, Marta conversou reservadamente com os colegas de partido na Câmara dos Deputados e pediu para que acelerassem a votação de outra medida de incentivo considerada primordial pela classe artística: o vale-cultura. Idealizado na gestão Lula e até hoje no papel, a proposta prevê que trabalhadores da iniciativa privada, servidores públicos e estagiários recebam um auxílio mensal de R$ 50 dos empregadores para irem a shows e peças. A intenção é que a proposta seja aprovada até o fim do ano.

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Apesar do bom começo, Marta Suplicy terá de superar obstáculos maiores à frente do Ministério da Cultura. Questões cruciais como a Lei de Direitos Autorais, que divide empresários e artistas da área cultural, terão de ser decididas por ela. “A Marta tem longa experiência política. Acreditamos que ela saberá dialogar e compreender as especificidades dos setores envolvidos”, diz Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Outra iniciativa apontada por especialistas como necessária é a revisão no formato da Lei Rouanet. Há uma exigência de maior contrapartida da iniciativa privada ao usarem o mecanismo de patrocínio à produção de obras culturais com direito a dedução fiscal. “Ela é uma personalidade política poderosa e isso é bom para um ministério de uma área em que existem tantas reivindicações urgentes para serem resolvidas”, analisa o cineasta Cacá Diegues.

De fato, a força política de Marta tornou-se um dos predicados para ela ocupar a cadeira ministerial. A vaga foi uma espécie de moeda de troca ao seu apoio ao candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Segundo fontes do governo, outro fator que pesou favoravelmente à sua escolha foi uma manifestação pública de apoio que a aproximou de Dilma Rousseff no início deste ano. Marta foi a única a defender Dilma publicamente, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu Haddad como candidato em São Paulo e, em seguida, concedeu uma entrevista em que não descartou retornar ao Planalto em 2014. Em meio às especulações de um possível retorno de Lula, Marta assegurou à imprensa que Dilma Rousseff seria a candidata do PT à reeleição. A iniciativa agradou à presidenta. Dilma, agora, conta com a habilidade política de Marta e o seu perfil executivo para fazer deslanchar a Cultura no País.

Colaboraram: Ivan Claudio, Mariana Brugger e Michel Alecrim

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Fotos: Sergio Lima/Folhapress; WILSON DIAS/ABR