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NOVO CICLO
Bloco feito com cédulas de real trituradas no Instituto Reciclar

Enquanto você lê este texto, 4,8 bilhões de cédulas de real circulam pelo Brasil. Por mudar de mãos o tempo todo, elas têm um tempo de vida curto. No período médio de um ano, 40% delas tornam-se inúteis e voltam para o Banco Central, que faz picadinho com elas. O resultado anual é uma pilha de duas mil toneladas de cédulas trituradas. Até 13 anos atrás, o destino desse lixo era a incineração. Hoje, a maior parte dele é despejada em aterros sanitários. Como a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina a desativação dos lixões até 2014, o BC está em plena corrida para encontrar um fim mais ambientalmente correto para o dinheiro.

“Por meio de parcerias, trabalhamos em projetos que devem ser aplicados em larga escala num prazo de até dois anos”, diz João Sidney de Figueiredo Filho, chefe do Departamento do Meio Circulante do Banco Central. Uma das ideias vem de uma instituição quase vizinha ao BC.

A professora da Universidade de Brasília Thérèse Hofmann uniu-se aos colegas José Carlos Andreoli e Sebastião Roberto de Andrade para resolver o principal problema na hora de reciclar dinheiro: tirar a resina que envolve e estica a vida das notas. Após vários testes, chegaram a um composto eficiente em 1996. Esperaram por 12 anos até que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) concedesse a carta-patente.

Sem a resina, fazer o papel-moeda voltar à condição de celulose de algodão é relativamente simples. O material serve de base para cadernos, convites e brindes. Depois de desenvolver a tecnologia, o desafio de Thérèse passou a ser outro. O plano agora é montar uma usina-modelo para que o projeto seja exibido e difundido no resto do País. “Estamos atrás de financiadores que entendam que isso não é filantropia. Isso dá dinheiro”, diz a professora, que é doutora em desenvolvimento sustentável. Segundo os planos dela, o projeto tem de ser aproveitado também para dar oportunidades a ex-detentos, portadores de deficiência e outros excluídos da economia formal.

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Um projeto de reciclagem de dinheiro com preocupação social tem sede em São Paulo. No Instituto Reciclar, adolescentes aprendem a transformar cédulas em blocos, cadernos e objetos decorativos. “Aqui, a reciclagem não é um fim, mas um meio. Mais importante é ensinar os jovens sobre espírito de equipe, superação e cumprimento de metas”, diz João Cruz, gerente de vendas e produção do instituto. Ele diz que, para participar do programa, há três condições: morar na favela, ter boas notas na escola e não apresentar problemas de comportamento.

Outros produtos podem ser feitos com notas trituradas. Um projeto da Universidade Federal Rural da Amazônia usa o dinheiro para fazer adubo. As cédulas respondem por 10% de uma mistura que é completada com restos de lixo orgânico. Nos testes, o composto tem se mostrado eficaz em culturas como a do feijão. O trabalho conta com a participação do governo do Pará, que irá distribuir o produto para a população carente de Belém. Dinheiro vai continuar não dando em árvores, mas elas podem crescer com a ajuda dele. 

Foto: Fernando Martinho