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“Eu sou ministro de Dilma e estou colocando
o nome do meu filho à disposição de vocês”

Fernando Bezerra

Em meio às eleições municipais, o ministro da Integração, Fernando Bezerra, deu de ombros à orientação do Palácio do Planalto e extrapolou os limites da legislação eleitoral para se engajar de maneira escancarada na campanha de seu filho Fernando Coelho (PSB) à Prefeitura de Petrolina. Nos últimos dias, de posse de um poderoso banco de dados com os números de telefone de toda a cidade pernambucana, com população de 293 mil habitantes, a campanha do deputado licenciado Fernando Coelho contratou uma empresa de telemarketing para disparar telefonemas. Nas gravações, a voz que aparece é a de Fernando Bezerra. Ele se apresenta como ministro da presidenta Dilma Rousseff e pede votos garantindo que, com a família no poder, Petrolina terá vez e voz no governo federal. “Eu sou Fernando Bezerra, ministro do governo Dilma e três vezes prefeito de Petrolina. Estou colocando o nome do meu filho Fernando Coelho Filho à disposição de vocês.” Até mesmo um dos cinco ramais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da cidade tocou com a ligação do ministro pedindo votos. A prática contraria frontalmente a lei eleitoral. Nas eleições deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio de Janeiro analisou denúncia de abuso do poder econômico na utilização do telemarketing e chegou à conclusão de que a compra de banco de dados para ligar para eleitores que não forneceram os dados espontaneamente é irregular.

A presença de Bezerra na disputa pela Prefeitura de Petrolina não para por aí. Além das participações do próprio ministro nas propagandas eleitorais de televisão, os organizadores da campanha escolheram uma maneira pouco sutil de ligar a candidatura de Fernando Coelho a um programa do Ministério da Integração. Caminhões carregados com cisternas do programa governamental Água Para Todos engrossaram o cortejo de veículos da carreata do filho do ministro em Petrolina, na primeira quinzena de agosto. Fotos obtidas por ISTOÉ registram as carretas com as cisternas entre os carros enfeitados com bandeiras azuis, da campanha de Fernando Coelho. “O caminhão não fazia parte da carreata. Estávamos trafegando por uma área industrial e o caminhão ficou preso em meio aos carros”, alegou a assessoria do Ministério da Integração. A escassez de água na região faz dos programas de abastecimento as ações com impacto mais direto na população. Mesmo assim, as cisternas de Bezerra se transformaram em uma chacota regional. Produzidos em material plástico, os recipientes não suportaram o calor do solo pernambucano e sofreram deformações que inutilizaram o material distribuído pelo Ministério da Integração. A ocorrência de dezenas de recipientes “derretidos” fez com que os moradores apelidassem o programa do governo de “cisternas sonrisal”.

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EMPURRÃO
Depois da ajuda do pai, o deputado Fernando Coelho cresceu
cinco pontos e assumiu o segundo lugar na disputa

O claro uso da máquina na eleição municipal por Fernando Bezerra tem irritado muito o Palácio do Planalto. Nos últimos dias, interlocutores da presidenta Dilma Rousseff mandaram recados desaprovando a atitude do ministro. O desempenho do filho do ministro explica a dedicação de Bezerra. O candidato do PSB estava em terceiro lugar na disputa no mês passado. Depois da ajuda do pai, cresceu cinco pontos e foi para segundo lugar, ameaçando a vitória de Júlio Lóssio (PMDB), candidato à reeleição, no primeiro turno. No dia 10, o ministro pediu férias do Ministério para se dedicar à campanha do filho, deixando um substituto em seu lugar. 

Foto: folhapress