Nos setores mais remediados da Índia, casamentos costumam ser um evento equivalente ao Natal no Ocidente. Dias antes da cerimônia, parentes se hospedam na casa da noiva e passam dias bebendo, cantando e contando histórias ao som das tablas. Dá para imaginar, então, o clima contagiante de Casamento à indiana (Monsoon wedding, Índia/Estados Unidos/ França/ Itália), de Mira Nair, que estréia na sexta-feira 24 no Rio de Janeiro e em São Paulo. Passada durante estes dias de preparação festiva, a comédia dramática – vencedora do Leão de Ouro na Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza, de 2001 – tece um painel atual da Índia a partir do cotidiano de uma família de classe média alta de Délhi.

Mira se deixou influenciar pelo estilo extravagante da chamada Bollywood, o complexo indiano de estúdios, especializado em filmes que mesclam ao enredo frenéticas cenas de canto e dança. Mas fugiu do meramente exótico. Não ignorou os problemas indianos e enveredou pelos conflitos entre a tradição e a modernidade. Nas palavras da cineasta, trata-se de “um casamento que logo vira um circo”, referindo-se às divertidas reviravoltas da trama quase folhetinesca não fosse a delicadeza com que todas as situações são resolvidas.

Só que nem tudo é festa. Dias antes do enlace, a noiva Aditi (Vasundhara Das) resolve reatar com o antigo amante e contar tudo ao noivo Hemant (Parvin Dabas). Sem falar que um parente começa a cometer investidas pedófilas. O lado engraçado fica por conta do garoto com cabeça apenas na dança ou do decorador que se apaixona pela empregada da casa. Ao todo, são 68 personagens, um punhado de coadjuvantes que colorem a tela com os tons berrantes de suas roupas
e personalidades singulares.