Uma das maiores dificuldades para se filmar uma biografia é escalar atores que personifiquem o focalizado nos diferentes estágios de sua vida, com um mínimo de credibilidade. O diretor inglês Richard Eyre, egresso da televisão, teve muita sorte com o elenco de Iris (Iris, Inglaterra/Estados Unidos, 2001), em cartaz nacional, biografia da escritora e filósofa inglesa Iris Murdoch. Com um orçamento de US$ 5,5 milhões, modesto sob qualquer padrão, Eyre pôde contar com Kate Winslet, de Titanic, e a veterana Judi Dench para respectivamente interpretarem Iris na juventude agitada e na velhice corroída pelo mal de Alzheimer, que a derrotou em 1999, aos 80 anos.

Iris Murdoch foi uma mulher e tanto. Autora de 26 elogiados romances, estudou com o filósofo Ludwig Wittgenstein no final dos anos 40 e, mesmo para os padrões de então, era uma libertária ao incluir homens e mulheres no seu currículo amoroso. Mesmo depois de, em 1956, casar-se com o também escritor John Bailey, interpretado pelos ingleses Hugh Bonneville e Jim Broadbent, este vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante. Professor de inglês, seis anos mais novo que Iris, ele mostrou-se o parceiro ideal para aquele dínamo intelectual com quem também dividia a paixão pela natação, hábito plasticamente muito bem explorado por Richard Eyre. O único pecado do diretor foi preferir enfocar as metáforas da doença em vez de colocar a obra de Iris em primeiro plano. Em situações diversas, no entanto, Eyre mostra que o pudor vivido pela escritora diante do marido ainda jovem, ao ser surpreendida fazendo amor com outro, foi o mesmo que demonstrou, idosa e doente, ao perceber Bailey observando-a tonta, com dificuldades para lembrar as mais simples palavras, antes sua matéria-prima.


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