Ricardo Giraldez

Garambone: discussão do suicídio de Santos Dumont

Dono de um texto solar, o carioca Sidney Garambone é reconhecido pelos colegas de redação como uma pequena “usina” de pautas, as idéias para a realização de reportagens. Além disso, cunhou alguns termos que caíram na boca do povo. Foi numa matéria dele, por exemplo, que se viu pela primeira vez o termo patricinha como feminino de mauricinho. Na sua primeira incursão no universo rigoroso das pesquisas, A Primeira Guerra Mundial e a imprensa brasileira (Mauad, 110 págs.,
R$ 27), a boa surpresa é que, com o olhar afiado de sempre, ele consegue identificar o ponto de equilíbrio entre o apuro exigido nos estudos científicos e a necessidade de manter o leitor ligado a um bom texto. A Primeira Guerra… mostra como a mídia impressa brasileira traduziu, entre 1914 e 1918, um conflito travado exclusivamente em solo europeu. Para isso, Garambone mergulhou em reportagens publicadas pelos dois jornais cariocas mais influentes no período: o novo e destemido Correio da Manhã e o conservador Jornal do Commercio.

Resultado de uma tese de mestrado, o livro traz detalhes da guerra diplomática estabelecida nos bastidores, mostra decisões tomadas pelo governo brasileiro e oferece descobertas curiosas. Uma delas, sobre a hipótese de que Santos Dumont teria cometido suicídio por não concordar com a utilização belicista do avião. “Ora, tão desgostoso assim estivesse, não teria, em novembro de 1917, visitado o presidente da República, Venceslau Brás, e oferecido seus préstimos técnicos para o caso de a nação precisar de conhecimentos aeronáuticos de um especialista.” A Primeira Guerra… é leitura instigante e, ao mesmo tempo, uma agradável aula de história.