Ilustração: Fernando Brum e roberto Weigand sobre foto Carlos alberto

EUA

A semana começou em clima de cautela, provocado pela decisão do banco americano JP Morgan, que calcula o risco-país, de rebaixar a avaliação dos papéis brasileiros nos últimos dias. Também Citigroup, Bank of America e a corretora Merrill Lynch recomendaram reduzir exposição em ações do País. O alemão Dresdner seguiu na mesma linha. O significado disso é simples de entender: em bom português, quanto mais alto o risco (e, portanto, mais baixa a avaliação), menor o interesse e a confiança dos investidores estrangeiros em investir seu dinheiro no país – no caso, principalmente Argentina, Equador, Venezuela e Brasil, os quatro primeiros no ranking em que todos querem aparecer nos últimos lugares, o do risco-país. Imediatamente, o dólar subiu, a Bolsa caiu e o chamado mercado ficou à espera do primeiro discurso no Senado do presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, o que aconteceu em seguida, na terça-feira 20.

Veio então o alerta: “Muitos bancos parecem acreditar que, com uma alta nos juros – acompanhada de um possível crescimento econômico –, será possível aumentar as taxas de empréstimos mais do que as pagas sobre os depósitos”, explicou Greenspan. O pronunciamento do poderoso presidente do banco central americano no Senado fortaleceu as suspeitas sobre uma alta da principal taxa diretriz do Fed, que hoje é de 1%, seu nível mais baixo desde 1958. Por que aumentar a taxa de juros se a economia está crescendo por lá? Exatamente por isso. Porque esse crescimento com os juros baixos dá sinais de que a inflação pode subir. Quem não conhece Greenspan, não tem o menor interesse na atuação do Fed e todos os dias lida com o pior da economia – a falta de emprego e, em consequência, de dinheiro para viver – teria o direito de perguntar: mas crescer com juros baixos não é tudo o que se quer? É e não é, como quase tudo na economia. O crescimento da economia americana está muito acelerado, principalmente em razão dos gastos do presidente Bush em sua aventura malsucedida no Iraque. Em março, a economia gerou 308 mil empregos, um recorde nos últimos quatro anos. E esse crescimento acelerado pode acelerar a inflação – o que ninguém quer. O governo brasileiro fez isso no ano passado: aumentou os juros para segurar a inflação. “Mas piorou tudo porque esse é um remédio que se não for bem administrado é perigoso”, diz o professor Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O efeito do aumento dos juros americanos pode ser trágico para as economias emergentes, como a nossa, já que os grandes capitalistas vão preferir a segurança de investir em títulos públicos americanos, tidos como um porto seguro, a se arriscarem em países que pagam mais pelos empréstimos, porém sem as garantias dos Estados Unidos. “O Brasil é marginal (no sentido de estar à margem) da economia internacional”, diz o professor Gonçalves. “Portanto, a tendência dos investidores é redirecionar o troco que está aqui para os Estados Unidos.” Ocorreria o inverso do que aconteceu nos últimos três anos, quando uma enxurrada de capital invadiu o Terceiro Mundo assim que Greenspan começou a baixar os juros da economia americana para salvar seu país de uma recessão ainda mais grave do que a vivida entre 2001 e 2002.

No mesmo dia, a Bovespa caiu mais 2,54%, reação dos investidores ao pronunciamento de Greenspan. Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,18%, enquanto o principal indicador da Nasdaq recuou 2,06% e o S&P 500 (Standard & Poor’s), 1,56%. As declarações de Greenspan também bateram no mercado de câmbio brasileiro, em que o dólar subiu 0,79% e fechou (terça-feira) a R$ 2,93, a maior cotação neste mês.

Shawn Thew/EFE

Greenspan: todos à espera da decisão

E veio a quarta-feira 21: todas as atenções mais uma vez voltadas para o discurso de Greenspan no Congresso, às 11 horas de Brasília. Bolsas européias – Londres, Paris, Frankfurt, Madri, Milão – operavam em baixa, à espera de seu pronunciamento, e fecharam em queda. “Os juros federais precisam subir em algum momento para evitar que pressões inflacionárias surjam”, disse ele no discurso ao Comitê Econômico Conjunto do
Congresso. Alguns economistas acham
que isso vai acontecer em junho, se os preços ao consumidor continuarem subindo junto com o emprego. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um aumento no
segundo semestre.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), dá uma estilingada na pompa do todo-poderoso: “Ele não tinha muito mais o que fazer, até que esperou bastante.” Belluzzo acredita que o aumento dos juros americanos deve acontecer devagar, sem turbulência. Ironicamente sugere que Greenspan deveria se inspirar – no caminho inverso – no Copom, que reduz as taxas de juros com estupenda mesquinhez. Os efeitos já são conhecidos, diz ele. O risco-país deve aumentar e o dólar se mover para cima. Sobre os efeitos no mercado, como a queda da Bolsa, Belluzzo não faz rodeios: “A economia no Brasil virou um mercado de vender fumaça. O problema dessa política econômica é que ela não é boa nem ruim, é inútil.”