André Dusek / Ado Henrichs/Ag RBS

Dose dupla: Klein, abalado, não se lembra do momento em que Felipe se jogou da janela

Em menos de uma década, o ex-ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso e atual secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Odacir Klein, vive uma segunda tragédia familiar. Desta vez com o filho mais novo, Felipe, 20 anos. Na noite de sábado 17, o tatuador profissional pulou do nono andar do prédio no qual o pai morava no centro de Porto Alegre, após os dois travarem uma dura discussão. Felipe perdeu a vida e Klein, segundo amigos e assessores próximos, a vontade de viver. Sob sedativos ao longo da semana, o ex-ministro estava decidido a afastar-se definitivamente do cargo que exerce no governo de Germano Rigotto (PMDB).

Esta mesma cena também é uma espécie de revival na vida do político gaúcho ligado ao PMDB. Em 1996, Klein, então ministro dos Transportes, estava num carro dirigido pelo filho mais velho, Fabrício, 18 anos. O jovem atropelou e matou o pedreiro Elias Barbosa de Oliveira Júnior em Brasília. Fabrício e Klein, que vinham de um churrasco, fugiram sem prestar socorro à vítima. Constrangido com a repercussão do incidente – a placa de seu carro foi anotada por uma testemunha –, ele entregou o cargo a FHC.

Foram também testemunhas que contaram à polícia que Felipe estava no parapeito do apartamento xingando uma pessoa quando se jogou. Fabrício, hoje com 25 anos, foi quem falou em nome da família durante o velório do irmão. “As circunstâncias ainda estão meio confusas, mas Felipe se jogou mesmo. Meu pai está em estado de choque. Não se lembra de nada.” A polícia, que encontrou o apartamento revirado e com dinheiro espalhado pelo chão, levou Klein, desorientado, para o hospital Dom Vicente Scherer. Ele não sabia dizer onde estava o filho, cujo corpo já se encontrava a 11 metros da fachada do prédio. Chegou a afirmar que Felipe estaria na casa da mãe, recém-separada, que mora na mesma rua do secretário. Klein foi submetido a exames, inclusive de teor alcoólico, que devem ser divulgados esta semana.

Felipe era uma espécie de antítese de Fabrício. Enquanto o jovem tatuador fazia parte de uma tribo, entre o gótico e o punk, que se veste de preto e transforma o corpo e a face com o uso de silicone e adorno de metais, o mais velho dos Klein está disposto a seguir os passos do pai: a carreira política. Ele vai disputar, pelo PMDB, uma cadeira na Câmara Municipal de Porto Alegre. Pelo acidente, Fabrício foi condenado por homicídio culposo a pagar indenização de R$ 30 mil à família do pedreiro e doar uma cesta básica por mês durante dois anos a uma instituição de caridade. Felipe, apaixonado por piercings e tatuagens, morava com a mãe e se enquadrava no estereótipo da rebeldia. No entanto, segundo confidenciou um médico amigo da família, sofria de depressão.