Ouça trecho da entrevista com Pagot
 

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Passava das 10h da manhã da terça-feira 28 quando Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), chegou ao Senado para depor na CPI do Cachoeira. Considerado uma testemunha-chave desde junho, quando ISTOÉ publicou declarações suas sobre o balcão de negócios instalado no órgão, nas quais expôs esquema de arrecadação das campanhas políticas, Pagot se curvou diante dos parlamentares. Durante mais de oito horas, ele decepcionou quem esperava por novas revelações e apenas confirmou o que havia dito sobre as pressões que sofreu para conseguir doações de empreiteiros para políticos. Pagot se contradisse ao tentar explicar as declarações que deu à ISTOÉ em junho, quando afirmou que a obra do rodoanel paulista servia para abastecer a campanha do então candidato à Presidência da República, José Serra (PSDB). O ex-diretor do Dnit declarou à CPI que as acusações haviam sido feitas por um funcionário de empreiteira em um restaurante de Brasília e que não passavam de “conversa de bêbado”. Dois meses antes, ele não qualificara a fonte da informação e insistira em que o denunciante era um amigo confiável e bem informado. Em uma nova entrevista gravada, depois de depoimento na CPI, Pagot admitiu ter sido orientado por advogados a recuar na ofensiva aos tucanos porque José Serra entrou com um processo judicial contra ele. “O Serra está me processando”, disse, em conversa gravada.

O recuo de Pagot pode mesmo ter relação com as complicações jurídicas, mas era esperado pelos parlamentares, antes mesmo do início da audiência na CPI. A tranquilidade de integrantes da base aliada e da oposição não combinava com o poder de fogo que o depoente tinha em mãos e com as ameaças que ele vinha fazendo aos políticos. Nos primeiros minutos da sessão, já era possível perceber o clima de acordo que esfriaria sua participação na audiência. Em tom conciliador e com palavras previamente ensaiadas, Pagot deixou claro que nenhuma nova denúncia seria feita e que a disposição de falar o que viu nos cinco anos em que esteve à frente do Dnit já não era a mesma. A tática da defensiva foi usada também pelo ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que voltou a negar que parte do dinheiro do rodoanel tenha ido para os tucanos. De acordo com Souza, não houve pressões da estatal paulista para que o Dnit liberasse um aditivo à obra do rodoanel e o custo adicional da obra teria sido determinada pelo próprio governo do Estado. Segundo o ex-diretor da Dersa, Pagot teria se confundido ao mencionar a suposta pressão. “Acho que ele se confundiu porque tinha muita coisa na cabeça.” Experiente, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) resumiu o que aconteceu. “A ausência de líderes de grandes partidos como PT e PSDB mostra que houve uma negociação em torno do silêncio”, afirmou Simon. “O que é uma pena, pois em diversas ocasiões ele prometeu contar tudo sobre o esquema de superfaturamento de obras. Ele perdeu a chance de ajudar o País.”

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PAULO PRETO
Ele negou que parte do dinheiro do rodoanel foi para o PSDB

O acordo citado por Simon foi costurado pelo senador Blairo Maggi (PR-MT) às vésperas do depoimento. Seu partido comanda o Dnit desde o governo Lula e avalizou as negociações feitas no órgão nos últimos anos. Minutos antes da sessão, o próprio Maggi avisou a alguns parlamentares que Pagot não detonaria nenhuma bomba e evitaria criar fato político com novas informações sobre esquemas de financiamento de campanhas. “Ele não vai incendiar”, avisou o deputado Maurício Quintella (PR-AL) por telefone a um interlocutor preocupado com o desfecho do depoimento. O ex-diretor seguiu à risca a orientação de aliviar o discurso sobre as irregularidades praticadas por tucanos em São Paulo e cedeu às pressões de caciques políticos para não tornar públicos os segredos que guarda até hoje. Perdeu uma boa chance de não ficar calado.

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