Leitor, imagine um cotidiano com espetáculos diários de striptease particulares, com acompanhamento de músicas sedutoras, fantasias e brinquedos eróticos. O céu é o limite. Ou melhor: o inferno o é. E tudo de graça! Mas com poréns: a mulher será sempre a mesma – embora, a cada semana, com forma física que melhora a olhos vistos. Ela é sua esposa. Leitoras, qual de vocês nunca se imaginou fazendo um striptease? Melhor ainda: que mulher já não tirou a roupa, peça por peça, ao som de trilha sonora sensual? Pouco importa se foi um ato para assistência de uma, duas ou três pessoas ou se aconteceu na solidão em frente ao espelho do quarto. Junte a este desejo quase-secreto outro bem conhecido: o de perder peso e ficar mais sensual.

É para quem acha estas premissas acima uma boa idéia que a Crunch, rede americana de academias de ginástica, criou a aeróbica-strip, ou, como é oficialmente intitulada, cardio-strip. São sessões de 60 minutos nas quais a arte do desnudamento ao som de discoteca assume caráter didático em nome da educação física. Nas 22 filiais da Crunch, é esta modalidade de condicionamento que mais atrai interessados.

A moda começou onde a maioria das ondas esquisitas nasce: em West Hollywood, Los Angeles. Foi um certo Jeff Costa quem usou sua experiência de ex-stripper para convencer a Crunch de que ensinar os outros a tirar a roupa dava lucro. Costa aproveitou-se do fato de ter sido o instrutor da atriz Demi Moore para o filme Striptease, no qual ela fez o papel de uma go-go girl. Com tal currículo, o sucesso foi imediato. O suficiente para gerar um vídeo para quem prefere uma forma mais intimista de striptease: aquele feito em casa. Esta peça educacional está à venda pelo site www.jeffcosta.com. Perguntado por ISTOÉ sobre as vantagens de uma sessão de striptease em relação a sessões de polichinelos e pique no lugar, Costa foi categórico: “As pessoas estão cansadas da mesmice de exercícios tradicionais. Além do mais, você já viu alguma stripper em má forma?”, indagou. Ao ser lembrado de que existem verdadeiros exércitos de bagulhos dançando nus em inferninhos, Costa contra-argumentou. “Estas não são profissionais”, disse.

De todo modo, o sucesso de sua criação está garantindo emprego para strippers e go-go boys desempregados. Em Nova York, por exemplo, está sustentando Carl Hall, um dos professores de cardio-strip da academia de Downtown. Todas as quintas-feiras, às 18 h, ele e uma ajudante reúnem um grupo de 20 mulheres e dois homens. “Os primeiros dez minutos são de aquecimento por meio de movimentos do striptease”, diz, sério. “Depois iniciamos a sessão com coreografias específicas. O participante aprende a entrar no palco, fazer movimentos giratórios, linguagem corporal, fazer lap-dance, e, claro, tirar a roupa”, diz o mestre. Lap-dance, entendam os iniciantes, é uma dança praticada por strippers no colo do cliente.

E que ninguém menospreze, durante as aulas, as utilizações de estolas de pele, fantasias que vão parar no chão em curto espaço de tempo e vários apetrechos eróticos. A todo momento Carl adverte: “Fiquem dentro de sua zona de conforto.” Traduzindo: tira a roupa quem quer e o quanto quer. Tem gente que arranca tudo. Até Carl, numa destas quintas-feiras, ficou apenas de tanguinha – algo com as dimensões de um cavanhaque (bem aparado). Na platéia, meia dúzia de convidados dos alunos e um jornalista olhavam estarrecidos. Na direção deste último veio Berta Wyatt, movimentando o pescoço como uma víbora. Para alívio dos espectadores, ela estava apenas treinando movimentos especiais, supostos artífices da sedução. “Comecei a fazer essas aulas há dois meses e já sinto uma diferença enorme, não apenas na minha forma física, mas também em minha autoconfiança. Tanto que em mais cinco ou seis aulas acho que terei coragem de tirar toda a roupa.”, diz esta presbiteriana divorciada de 38 anos.

“Fiquem em sua zona de conforto”, repetia Carl. Como se fosse fácil ficar confortável em um ambiente com 20 mulheres e dois homens que imitam uma linha de coristas da velha Las Vegas. Mas a turma parece estar numa boa, tanto que no final entra numa espécie de transe no qual os elogios mútuos (recomendados pelo professor) vão do “Você está mesmo muito gostosa!” até o clássico tapinha no traseiro. E se a coisa acaba assim neste cardio-strip, é de se imaginar como terminará nas sessões de “S&M Fitness”, um conjunto de exercícios inspirados no sadomasoquismo que a filial Miami da Crunch lançou no mês passado. A instrutora é uma dominatrix – espécie de senhoria sádica – coberta de lingerie de couro, como convém, que não hesita em meter a chibata no lombo dos preguiçosos ou dos mais roliços. Lá, a expressão “No pain, No gain” – sem dor não há progresso físico – adquire significado extra-especial. Quem não ficar esperto, apanha.