Início da noite do sábado 22. O restaurante da pousada Fazendinha, em Nazaré Paulista, interior de São Paulo, está agitado. A televisão acabara de mostrar o gol que deu o título paulista ao Corinthians, em cima do São Paulo. No momento em que metade dos presentes comemorava, o instrutor Edu se colocou à frente da tevê, abaixou o volume e avisou: “Também sou corintiano, mas gosto mais de corrida de aventura. Está na hora da reunião entre organização e competidores.” Em outras circunstâncias, o rapaz correria risco de linchamento. Mas ali todos se levantaram e seguiram as orientações. Futebol não era mesmo
a praia dos 230 competidores que
formaram as 56 equipes participantes do Caloi Adventure Camp,
uma espécie de campeonato-laboratório do esporte que está
virando moda entre os aventureiros.

Há quatro anos, quando as corridas de aventura chegaram por aqui, era difícil atingir quorum para formar dez times. Hoje, tem cada vez mais gente disposta a encarar longas caminhadas, pedalar em trilhas acidentadas, remar contra a correnteza e se pendurar em penhascos e pontes. “As pessoas estão procurando coisas diferentes e desafiadoras. Buscam o bem-estar físico, aliado ao contato e cuidado com a natureza. A corrida de aventura oferece isso tudo ”, diz Sérgio Zolino, corredor de aventuras, triatleta e organizador do Caloi Adventure Camp.

As corridas são disputadas em lugares paradisíacos. Matas, morros, rios, cachoeiras e represas compõem o cenário da prova. A maioria das competições é realizada aos finais de semana. Cada equipe é composta por quatro competidores. O formato e os equipamentos utilizados variam de acordo com o tipo de competição. Há corridas de um dia, de dois e até de uma semana, as chamadas expedições. Em algumas modalidades não é necessária a participação da equipe completa. Na canoagem, por exemplo, dois podem remar enquanto a dupla restante caminha. Vence quem conseguir passar por todos os PCs (posto de controle) no menor tempo possível. Costuma se dar melhor quem tem afinidade com bússolas e mapas. Força e fôlego são importantes, mas perdem a valia se a equipe não souber fazer cálculos e desconhecer o significado dos termos latitude e longitude. Por isso, bons navegadores são disputados quase a tapa pelos times.

Diversidade – Outro barato do esporte é a diversidade. Superatletas, como os integrantes das equipes Mamelucos, Rosa dos Ventos e Landscape – as três primeiras colocadas da prova e que estão na elite do esporte no País –, competem com iniciantes e gente com bíceps e coxas normais. Outro detalhe que chama a atenção é o perfil dos participantes. Em sua maioria são empresários, executivos e profissionais liberais, ou seja, gente bem resolvida física e financeiramente. Caso do empresário paulistano Ernesto Harberokonr, 59 anos. Proprietário de uma empresa de softwares, ele participava pela terceira vez de uma corrida de aventura. “Até parei de malhar. Você conhece lugares incríveis. É um esporte que tem tudo para se consolidar”, diz. No Caloi Adventure Camp, ele competiu ao lado da namorada, do filho e da filha, que fazia sua primeira corrida. O entusiasmo é tão grande que o empresário vem incentivando seus funcionários a entrar na brincadeira. “Na corrida de aventura é possível saber quem tem boa liderança, motivação e organização, ingredientes fundamentais para um bom gerente”, diz Ernesto.

Se não é item fundamental para as vitórias, a beleza dos competidores ajuda a ornamentar ainda mais os lindos cenários onde as provas são disputadas. As corridas de aventura são um verdadeira passarela de corpos bem definidos. A universitária paulistana Marcela Toldi, 18 anos, é uma das beldades a serviço da aventura. Alta, silhueta afilada, um exemplo bem acabado da moçada que pratica o esporte. Mas a delicadeza fica nos traços. Acostumada às durezas do ofício, ela tem a explicação para o crescente interesse feminino pela atividade. “A mulher aguenta mais a dor. Tem uma cabeça melhor para encarar as adversidades. Para mim, quanto pior melhor”, diz a estudante de administração da Faap, de São Paulo. Marcela é tão apaixonada pelas corridas que seria capaz de botar para correr um pretendente que a impedisse de praticá-las. Por falar nisso, no momento ela está sozinha. Diz não estar procurando. Mas no meio de tamanha tentação… “Que lugar melhor para conhecer um namorado do que numa corrida de aventura? Mas ainda não tive a oportunidade de encontrar alguém que me interessasse”, diz. Ao que tudo indica, a moça não vai ficar muito tempo sozinha.