Não é tempo de sonhar – Pierre Huyghe/ Centro Universitário Maria Antonia/ até 21/10
Le Corbusier – América do Sul – 1929/ Centro Universitário Maria Antonia/ até 21/10

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FICÇÃO REAL
"Não é Tempo de Sonhar", de Huyghe, sobre edifício de Le Corbusier

Um dos maiores arquitetos do século XX e pioneiro da arquitetura moderna mundial, Le Corbusier fez sua primeira viagem à América do Sul em 1929. No Brasil, suas conferências sobre urbanismo foram determinantes para influenciar nossos profissionais a romper com o neoclassicismo dominante nos anos 1920, para então começar a desenvolver a aptidão necessária a fim de produzir a arquitetura moderna de vanguarda que ganhou a atenção do mundo. Precisaríamos hoje de outra visita de Le Corbusier para quem sabe interromper a escala neoclássica que não abandona a construção civil brasileira. Dado que o arquiteto não pode fazer essa viagem – porque viveu até agosto de 1965 –, essa visita oportuna se faz na forma de duas exposições no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo.

“Le Corbusier – América do Sul – 1929” apresenta 26 desenhos originais produzidos durante a viagem feita a Buenos Aires, Montevidéu, São Paulo e Rio de Janeiro. Muitos deles são vistas aéreas de projetos concebidos para essas cidades, produzidos a partir da primeira oportunidade que o arquiteto teve de voar em um avião. “A impactante apreensão panorâmica do território fertilizou o diálogo entre as escalas da arquitetura e do urbanismo”, argumentam no texto de apresentação os curadores da exposição, os arquitetos Rodrigo Queiroz e Hugo Segawa. “Tentei a conquista da América movido por uma razão implacável e pela grande ternura que voto às coisas e às pessoas”, escreveu Le Corbusier sobre a viagem.

Entre os planos urbanísticos elaborados para a cidade do Rio de Janeiro – não realizados – está um dos primeiros projetos de alojamentos para classes populares idealizados no século XX. Depois, ao regressar ao Brasil nos anos 1930, traçou o esboço para a sede do Ministério da Educação e Saúde, que chegaria a ser considerado o mais belo edifício do Ocidente pela imprensa mundial.

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SONHOS
"Plano para a Cidade do Rio de Janeiro", desenho realizado em 1929

Mas se, segundo a exposição, a visita ao Brasil e os deslocamentos pela América do Sul foram decisivos para mudar a visão que Le Corbusier tinha do mundo e da arquitetura, o mesmo encontro frutífero não chegou a acontecer em sua viagem à América do Norte. Esse é o argumento do artista francês Pierre Huyghe no filme “Não é Tempo de Sonhar”, realizado em 2004, ocasião dos 40 anos do Carpenter Center for the Visual Arts, na Universidade de Harvard, o único edifício de Le Corbusier construído nos Estados Unidos.

Em um delicado teatro de marionetes, Huyghe reconstitui o turbulento processo criativo do arquiteto franco-suíço na América. Em uma narrativa paralela, representa a si mesmo como um dos personagens na trama, em um embate pessoal com os agentes da instituição acadêmica durante a pesquisa para a realização do filme. Le Corbusier, Huyghe e os outros personagens são invariavelmente interceptados pelo “reitor dos reitores”, uma criatura sombria que manipula seus interlocutores como bonecos de um teatro de marionetes.

Nessa homenagem metalinguística e labiríntica, Huyghe produz uma sofisticada metáfora das forças ocultas que regem as relações humanas no complexo sistema da política cultural – questões que compunham o universo de interesses dos projetos revolucionários de Le Corbusier.

Fotos: Agradecimento Centro Georges Pompidou