O mago, a sacerdotisa e o ceifador já têm lugar certo para discutir os rumos de sua profissão. Eles são alguns dos 78 arcanos (figuras simbólicas) presentes nas cartas mágicas do tarô e convidados de honra no primeiro congresso brasileiro da categoria. Se os astrólogos possuem até sindicato, faltava uma oportunidade para os tarólogos colocarem a conversa em dia. “Nossa idéia é montar uma associação e nacionalizar a profissão. Sabemos muito pouco sobre
os profissionais de outros Estados. Há dez anos, tentei trabalhar
em São Paulo e não consegui clientes, apesar de ser conhecido no
Rio de Janeiro”, conta o carioca Nei Naiff, 44 anos, organizador do congresso. A iniciativa foi recebida com festa pelos colegas e a enorme procura causou lista de espera para o evento, marcado para 30
de novembro no hotel Sheraton Mofarrej, de São Paulo.

Quem imagina um salão cheio de videntes vestidos à moda cigana está enganado. “Muita gente pensa que o tarô é um oráculo egípcio, levado
à Europa pelos ciganos. Falta informação. Os ciganos são indianos, e
não egípcios. E só chegaram à Europa a partir de 1417, 50 anos depois dos primeiros registros do uso do jogo em países como Itália, França
e Espanha”, explica Naiff. Provavelmente, o tarô foi inventado por um europeu. Durante anos, foi utilizado como jogo lúdico e não só para
se descobrir o futuro. Quase 500 anos depois foi lançado o primeiro baralho com iconografia egípcia. “Nas cartas tradicionais, as personagens aparecem com roupas e símbolos medievais. Hoje, existem baralhos
com imagens ciganas, incas, da mitologia grega e até com elementos budistas. Isso causa tanta confusão que muitos clientes perguntam
qual tipo de tarô eu jogo”, conta Naiff, pesquisador do tema e autor
de uma trilogia publicada pela Editora Elevação em 2000.

Todo tarô é o mesmo. Para jogar,
é preciso estudar os símbolos e
entender seus significados. Também
não é preciso ser vidente. A mágica reside na ordem em que as cartas
são abertas pelo cliente. Outro objetivo do congresso é divulgar as possibilidades de atuação profissional do tarólogo. “Podemos empregar o tarô como objeto terapêutico”, diz a terapeuta paulista Kelma Mazziero, 32 anos. “O jogo
mostra o que o cliente sonha, como
ele está e o que ele se obriga a fazer.
A partir daí, estabelecemos o ponto
de equilíbrio e trabalhamos para
alcançá-lo. Além disso, dependendo do quadro que o tarô mostrar,
indicamos um floral de Bach, por exemplo”, explica a terapeuta.