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BOM RESULTADO
Por meio de avaliações bimestrais, o Colégio José dos Reis Mendes (GO)
descobre quais alunos e turmas estão com baixo desempenho

Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados na semana passada mostram que a educação no ensino médio é um gargalo que o Brasil precisa enfrentar logo. Principal ferramenta usada pelo governo para avaliar a evolução educacional, o Ideb nesse nível de ensino ficou estagnado entre 2009 e 2011, o que motivou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a anunciar mudanças para breve. Enquanto no governo federal as planilhas geravam preocupação, em dois Estados os dados eram motivo de festa. Em Goiás e no Rio de Janeiro, o Ideb de 2011 revelou melhorias significativas na rede estadual. Na última medição, em 2009, o Rio de Janeiro amargava a penúltima posição do ranking por Estados no ensino médio. Com o segundo maior orçamento nacional, atrás apenas de São Paulo, o Rio não conseguia transformar seus recursos em qualidade na educação. Goiás aparecia um pouco melhor na lista, em 16º lugar, mas também abaixo da média nacional.

Com a eficiência de suas gestões reprovadas, os dois Estados resolveram mudar. A primeira alteração foi no comando das pastas de educação. Novos secretários foram chamados para assumir o posto: Wilson Risolia Rodrigues, no Rio de Janeiro, e Thiago Mello Peixoto da Silveira, em Goiás. “Quando cheguei, encontrei uma grande defasagem entre idade e série e um acúmulo do déficit de aprendizagem dos alunos nas séries de transição, em especial no ensino médio”, conta Rodrigues. Fazer a lição de casa foi o passo seguinte dos Estados após constatar as falhas. Ambos passaram a investir pesado em sistemas próprios de avaliação, por meio de provas bimestrais. “Sei exatamente quais são os alunos que estão com dificuldade e posso encaminhá-los imediatamente para o reforço, evitando a reprovação no fim do ano”, diz Wannessa Cardoso, diretora do Colégio Estadual Professor José dos Reis Mendes. A escola, com 1,6 mil alunos, fica em um bairro pobre de Trindade, na região metropolitana de Goiânia, e é a que mais tem avançado segundo o sistema de avaliação do Estado.

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"Com a articulação dos conteúdos do Ensino Médio e do técnico, os alunos
conseguem entender para que estão estudando e se interessam mais"

Marta Luna, diretora do Núcleo Avançado em Tecnologia de Alimentos, em São Gonçalo (RJ)

Outra iniciativa comum a Rio e Goiás é a existência de conteúdos mínimos, questão trazida à tona na semana passada pelo ministro Mercadante, que pretende criar um currículo-base nacional. No Rio, isso já funciona e, em Goiás, deve entrar em vigor a partir de 2013 – atualmente, na rede estadual goiana existem cargas horárias mínimas para as disciplinas de português, matemática e ciências. “Muita gente condena a ideia do currículo mínimo dizendo que se perderia a autonomia do professor, mas essa autonomia está no modo como o docente ensina, e não no conteúdo que ele precisa passar para seus alunos”, avalia Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação. Além de estabelecer o que deve ser ensinado, resta o desafio de fazer o jovem se interessar pelo que lhe é passado em sala de aula. Nesse sentido, um bom exemplo vem sendo implantado no Rio com o programa Dupla Escola, no qual instituições mantidas pelo governo em parceria com a iniciativa privada combinam as disciplinas obrigatórias com a formação técnica para profissões em que há demanda reprimida no Estado. “Assim, os alunos conseguem entender para que estão estudando e se interessam mais”, acredita Marta Luna, diretora do Núcleo Avançado em Tecnologia de Alimentos, em São Gonçalo. O colégio é um dos 12 onde o modelo foi implantado e pretende-se que até o próximo ano todas as escolas estaduais fluminenses de ensino médio sigam o formato.

Rio e Goiás também fizeram outra importante alteração em suas redes de ensino: decretaram o fim da indicação política para o cargo de diretor. “Agora, quem quer ser diretor, faz uma prova. Se selecionado, propõe um plano de gestão para a escola e a comunidade escolar irá escolher, por eleição, qual o melhor plano”, explica Thiago Silveira, de Goiás. O resultado prático é um profissional mais bem preparado. “A experiência desses Estados mostra alguns caminhos interessantes”, avalia Lina Kátia Mesquita, coordenadora do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora – uma referência em gestão da educação e com projetos junto aos dois Estados. São exemplos de que não é preciso inventar a roda para avançar. Basta fazer bem a lição de casa.

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