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CONTAGEM REGRESSIVA
Governador Sérgio Cabral hasteia a réplica da bandeira olímpica
no Complexo do Alemão. Abaixo, as obras da Vila Olímpica

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Com o encerramento da Olimpíada de Londres, foi disparado o cronômetro de uma prova ainda mais árdua para o Brasil do que a própria organização dos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro. Além de terminar as obras no prazo, o País enfrenta o desafio de marcar presença constante nos pódios, e não apenas aplaudir os visitantes de outras nações. Como anfitriões, os brasileiros terão o privilégio de contar com vaga garantida em todas as modalidades. A meta do governo e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é a mesma: ficar entre os dez primeiros países no ranking geral. Na comparação com o resultado dos jogos londrinos, o Brasil teria que pelo menos se igualar a Itália e Coreia do Sul, ambas com 28 premiações. Para isso, o Ministério do Esporte divulgou que irá lançar um plano de medalhas, uma série de medidas financeiras para melhorar o desempenho nacional nos esportes de alto rendimento. Uma delas já foi anunciada. É o Bolsa Ouro, ou Bolsa Medalha, destinado aos 20 melhores atletas em suas modalidades, que poderão se candidatar a bolsas mensais de R$ 5 a R$ 15 mil. A verba, segundo o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, será entregue diretamente aos esportistas, sem passar por confederações ou pelo COB, para que eles possam contratar nutricionistas, preparadores físicos e técnicos.

Para a preparação de Londres-2012, o governo gastou R$ 1,7 bilhão, entre Lei Piva, Lei de Incentivo ao Esporte, patrocínio de estatais e o programa Bolsa Atleta, uma ajuda de custo mensal entre R$ 350 e R$ 1,5 mil. Um investimento recorde, superior ao de potências olímpicas como a Grã-Bretanha (R$ 1,6 bilhão). Mas esse investimento não se traduziu em medalhas, o que faz com que medidas como o Bolsa Ouro sejam questionadas. A diretora da seleção de basquete feminino, a ex-jogadora Hortência, faz um alerta: mais do que verba, as confederações precisam concluir, em pouco tempo, um planejamento sério. “Bolsas para os atletas e investimentos são fundamentais, mas não é só isso. Quem quer conquistar medalha tem que começar a treinar duro rapidamente e o planejamento tem que estar pronto antes de 2013”, diz a dirigente.

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Os próximos quatro anos serão de muito treinamento e competição, principalmente para os esportes individuais, nos quais o Brasil tem se mostrado mais fraco. Para o treinador Aristides Junqueira, material humano é o que não falta ao País. Seu pupilo Mauro Vinícius da Silva, 25 anos, ficou em quinto no salto em distância em Londres e planeja estar em plena forma no Rio. No entanto, as condições de treinamento deixam muito a desejar. “Nossa pista precisa urgentemente de reforma e não temos um restaurante que forneça comida balanceada para os atletas, que cuidam da própria alimentação”, diz Junqueira, que treina sua equipe em um centro da Prefeitura de São José do Rio Preto (SP). “Algumas medidas simples poderiam melhorar muito nosso desempenho.” Por ter patrocínio, Mauro Vinícius da Silva ficou sem a chamada Bolsa Atleta, oferecida pelo governo federal justamente a quem não tem apoio da iniciativa privada. Mas o programa está sendo reformulado em função do Bolsa Medalha. Técnicos e preparadores em geral passarão a receber auxílio federal. Os detalhes serão anunciados pela presidenta Dilma Rousseff, junto com o Plano Medalha, que deve custar entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.

“Uma questão crítica é a participação em competições e amistosos internacionais. Daremos apoio a esse intercâmbio”, afirmou o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, do Ministério do Esporte, que pretende montar uma rede de centros de treinamento. O projeto irá equipar espaços de várias modalidades, já em funcionamento, e transformá-los em centros de referência. Sem o prometido apoio técnico multidisciplinar, mesmo os competidores mais habilidosos podem fracassar na hora decisiva. “É tanta ansiedade e tensão que sem esse trabalho a pessoa pode realmente amarelar na hora”, diz a judoca piauiense Sarah Menezes, que subiu ao topo do pódio em Londres. “Tive uma preparação psicológica com uma amiga de Teresina, que não me cobrou nada.”

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Para Davi Poit, autor do livro “Organização de Eventos Esportivos” (Editora Phorte), as maiores potências mundiais do esporte não brilham nos pódios apenas com talentos isolados. Para garimpar potenciais, os países de ponta investem pesado em educação, caminho que deveria ter sido traçado pelo Brasil há mais tempo. Trabalhar com os atletas que já apresentaram bons resultados e permitir a participação deles em competições internacionais é a recomendação do especialista, diante do prazo curto de 2016. “Se iniciarmos uma política séria agora, teremos melhores resultados em 2020 ou 2024. Mas como chegamos perto de vencer em várias modalidades em Londres, é viável obtermos 30 medalhas no Rio”, afirma Poit. O vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro, André Fernandes, também acredita que o esporte precisa estar vinculado à política educacional, mas sugere a criação de uma campanha de caça-talentos para 2016. “Para algumas modalidades há tempo suficiente para formarmos campeões”, diz Fernandes.

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Fotos: Ricardo Moraes/REUTERS e Alexandre Durão/Ag. O Globo


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