Vai começar outra vez. A maratona de entrevistas a jornalistas do Brasil e do Exterior, multidão de leitores correndo às livrarias e críticos irados falando mal. Afinal, na quinta-feira 3 chega às livrarias mais um livro de Paulo Coelho. Acontece que Onze minutos, obra que marca seu retorno à editora Rocco, vai surpreender muita gente e deixar seus leitores boquiabertos. Sem tanta ansiedade, o escritor observa a movimentação com seu costumeiro estilo low profile. “Estou sempre lançando livros ao redor do mundo. Foram 11 nos últimos 12 meses”, contabiliza ele. Escaldado, Paulo Coelho até arrisca antecipar o argumento das resenhas de seu novo
livro. “Vão implicar com o final feliz”, aposta. A profecia não resulta dos poderes sobrenaturais que um dia o Mago atribuiu a si, mas de
pura dedução da voz da experiência. Para o leitor, no entanto, Onze minutos guarda um ingrediente explosivo e antes totalmente fora dos enredos esotéricos ou religiosos de sua obra. Agora, os personagens
de Coelho fazem sexo. Ele diz ter se inspirado numa história real para escrever a trajetória de uma prostituta brasileira radicada na Europa. Discussões sobre orgasmo clitoriano ou vaginal, práticas sadomasoquistas e cenas de sexo oral aparecem em algumas páginas em detalhes surpreendentemente ousados para um best seller do seu gênero. “Meu compromisso é comigo mesmo”, avisa o autor, para mostrar que não
teme o efeito-bomba entre os leitores fiéis.

Apesar das passagens picantes, Coelho adverte: “A história não é sobre sexo, mas sobre a complicada relação entre os sentimentos e o prazer físico.” Realmente, o erotismo é apenas um componente na vida de Maria, a personagem principal. Mas o livro certamente ficará marcado pela alta temperatura de alguns trechos e uns arroubos incomuns para pop stars da literatura mundial que vendem livros aos milhões e raramente se arriscam a escandalizar. “O homem reage, o sexo começa a crescer em suas mãos e ela aumenta lentamente a pressão, sabendo agora onde deve tocar”, descreve o narrador. No diário de Maria, é possível encontrar relatos assim: “Vi que ficava excitado, e começou a tocar os bicos de meus seios, girando-os como naquela noite de total escuridão, me deixando com vontade de tê-lo de novo entre as minhas pernas…” E não são as sequências mais apimentadas. Se já houve alguma surpresa com pequenos trechos sensuais de seu livro de 1998, Veronika decide morrer – a editora inglesa implicou com uma cena rápida de masturbação e uma professora londrina escreveu dizendo que aquele texto traía seu público adolescente –, imagine a repercussão de Onze minutos, que será lançado simultaneamente no Brasil, na França e em Portugal. O autor, porém, acha que estudantes e professores não vão ficar chocados, mas incentivados para uma nova postura em relação ao sexo.

A idéia de escrever sobre o tema foi embalada durante oito anos, até
que Coelho se encontrou com uma prostituta na Suíça. Bastou que ela contasse sua vida para ele identificar o fio condutor necessário. “Vi que aquela mulher deu a volta por cima em uma situação difícil. Não me refiro à prostituição, mas ao desencanto com o sexo”, explica. Deste momento em diante, o autor conta que levou apenas um mês para colocar as
idéias no papel. O título Onze minutos é um contraponto a Sete minutos, best seller dos anos 70 no qual o escritor americano Irving Wallace estimava o tempo de uma relação sexual, descontados o strip-tease
e as carícias preliminares. Coelho achou pouco para os padrões
brasileiros e resolveu dar uma prorrogação.

Sem dúvida, a obra celebra em grande estilo o reencontro do autor com a editora em que estreou em 1988. Sai com uma tiragem inicial de 200 mil exemplares, a maior de um escritor brasileiro. O ex-mago, no entanto, não revela a quantia envolvida na sua transferência da Objetiva para a Rocco, ocorrida no ano passado, e nega por todos os alquimistas que atinja R$ 1 milhão. “Assim como o sexo, o dinheiro também é um tabu. Ninguém gosta de dizer quanto ganha.”

Não bastasse a roda-viva do lançamento, Coelho também se viu envolvido numa polêmica de dimensão planetária. Tudo por causa de um artigo que escreveu criticando o ataque dos Estados Unidos ao Iraque. O texto foi publicado no jornal Folha de S.Paulo e em diários de todo o mundo, como o francês Le Monde, o japonês Asahi Shimbum e o alemão Frankfurter Allgemeine, e logo caiu na internet, retransmitido como uma corrente. Sob o irônico título Obrigado, presidente Bush, Coelho não faz por menos. Escreveu que Collin Powell se expôs ao ridículo, o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, e o presidente espanhol, José Maria Aznar, traíram os votos recebidos e a ação americana teve o mérito de unir vários países na luta pela paz. O resultado foi uma caixa de e-mails entupida de mensagens de apoio e de contestação por parte de americanos irados. Algo delicado num momento em que reedições de suas obras chegam às livrarias dos Estados Unidos. “Aos poucos, os americanos contrários à guerra estão equilibrando as coisas no meu correio eletrônico.” A repercussão de seu artigo foi tanta que, logo depois da entrevista a ISTOÉ, Coelho recebeu um jornalista libanês, um dos vários repórteres estrangeiros que o têm procurado para tratar exclusivamente da guerra no Iraque.

Vingança – Nas próximas três semanas, sua agenda será dedicada
ao lançamento de Onze minutos. Neste tempo, vai se privar até da companhia dos colegas imortais da Academia Brasileira de Letras, que passou a integrar em outubro do ano passado. Tranquilo, ele ainda
revela certeza de que os críticos vão malhar o novo livro. Como sabe? “Simples. Não se pode detestar um autor por dez livros e adorá-lo
no décimo primeiro.” Em sua voz, porém, não se nota nenhum ressentimento. Tanto que sugeriu à editora francesa que também inclua as críticas negativas nas peças publicitárias promocionais. O sorriso com que passa a informação, contudo, denuncia certa ironia, talvez até uma pequena vingança, pois afirma que, dos milhares de resenhas contrárias que já leu durante sua carreira de escritor, só uma contribuiu para melhorar seu trabalho. “Foi em 1990, quando um crítico disse que eu abusava das maiúsculas.” Ele concordou e a partir de então passou a ser mais parcimonioso no item.

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Para quem começou a escrever Onze minutos com o objetivo de resolver os próprios questionamentos em relação ao sexo, o autor se dá por satisfeito. Ele se identifica bastante com o personagem  Ralf Hart, que descambou nos subterrâneos do sexo e acabou desencantado. Sua busca pela magia original é que o levou até Maria: “Apesar de tanta superexposição, o sexo é ainda tratado com hipocrisia. As pessoas não sabem direito como resolver sua vida sexual, como juntar corpo e alma.” Daí a grande atração pela história verdadeira de uma ex-prostituta, que hoje está casada e tem dois filhos. “Ela leu a história e fez alguns reparos nas características que poderiam identificar os personagens reais, mas gostou muito.” Tanto para ela quanto para  Paulo Coelho já se pode dizer que a história acabou num redundante happy end – mesmo contra a vontade dos críticos.

“Na verdade, tive apenas dois parceiros desde que cheguei a Genève: um que despertou o pior de mim mesma, porque permiti – e até mesmo implorei. O outro, você, que me fez sentir de novo parte do mundo. Eu gostaria de poder ensiná-lo onde tocar meu corpo, qual a intensidade, por quanto tempo, e sei que entenderia isso não como uma recriminação, mas como uma possibilidade de que nossas almas se comunicassem melhor. A arte do amor é como a sua pintura, requer técnica, paciência, e sobretudo prática entre o casal. Requer ousadia, é preciso ir além daquilo que as pessoas convencionaram chamar de fazer amor”

Trecho de Onze minutos, de Paulo Coelho


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