Uma equipe de paleontólogos da Universidade Nacional da Austrália encontrou na semana passada mais uma peça do quebra-cabeça da evolução humana. E sabe onde encaixá-la. Os pesquisadores desenterraram na Ilha de Flores, na Indonésia, ferramentas entalhadas em pedra que eles estimam ter mais de 800 mil anos – e que teriam sido produzidas pelos Homo floresiensis, um parente distante do homem moderno cujas ossadas foram descobertas há três anos na mesma região.

Apelidado de “hobbit”, o H. floresiensis era tão pequeno quanto o famoso Frodo Bolsero, personagem do filme Senhor dos Anéis. Dadas as suas proporções, as quase 500 peças escavadas não poderiam ser maiores: elas variam entre um centímetro e meio e nove centímetros de comprimento. Esse conjunto de artefatos estava enterrado em um sítio na Mata Merge, a cerca de 50 quilômetros da caverna Liang Bua, local onde os vestígios do H. floresiensis foram escavados pela primeira vez.

O “hobbit” é, provavelmente, descendente do Homo erectus, um dos primeiros hominídeos a fabricar ferramentas. Para Adam Brumm, responsável pela pesquisa, as quase 500 peças indicam que os H. floresiensis eram mais requintados que os Homo erectus, que faziam peças grandes e grosseiras. Outra surpresa é a idade dos novos achados. Os cálculos dão até 840 mil anos para as ferramentas, ou seja, elas são bem mais velhas do que a ossada do “hobbit”, que tem 18 mil anos. Isso não é uma falha da pesquisa. A equipe de Brumm defende a tese de que a enorme diferença de tempo pode ser explicada pelo fato de que os “hobbits” transmitiam de geração a geração a sua tecnologia de fabricação dos objetos.

Como sempre ocorre quando se trata de demarcar períodos de tempo na cadeia da evolução humana e introduzir fósseis nos elos que se imagina perdidos, a descoberta dos paleontólogos australianos não é uma unanimidade científica. Há quem ache que as ferramentas desenterradas são avançadas demais para terem sido feitas por um antepassado do Homo sapiens. “Elas são do homem moderno”, diz o antropólogo americano James Phillips, da Universidade de Illinois. “Há 18 mil anos, eles estavam em todos os lugares do planeta.” Segundo Phillips, o H. floresiensis nem chega a ser uma nova espécie e o tal “hobbit” seria um humano com microcefalia, doença que reduz em dois terços o volume de massa cerebral.