Com os olhos inchados por trás das
lentes escuras de seu ray-ban modelo tradicional, Eliana Tranchesi repetia na quinta-feira 1º a mesma interrogação. “Que mal meu irmão pode causar à sociedade? Qual o risco que ele representa?”, perguntava diante da reportagem de ISTOÉ. Àquela altura, início da tarde, Antonio Carlos Piva de Albuquerque, seu irmão, braço direito e diretor financeiro da Daslu – a megaloja de luxo que ela fundou há 17 anos –, estava preso numa cela do Centro de Detenção Provisória de Guarulhos. Sob a acusação de sonegação fiscal, fraude em importações e formação de quadrilha, foi a sua segunda prisão no espaço de um ano. Da primeira vez, em julho do ano passado, a própria Eliana foi levada à Polícia Federal. “Não sei o que pode acontecer comigo agora”, dizia ela.

A nova acusação de sonegação é um golpe no futuro da Daslu, um empreendimento com investimentos superiores a R$ 50 milhões. Nos últimos meses, sob o impacto do escândalo da primeira detenção do casal de irmãos, comerciantes que alugam espaços dentro dos 17 mil metros quadrados da loja se queixam de uma queda de faturamento de até 60%. Com receio de terem seus nomes associados à loja, compradoras passaram a evitar o uso de cheques e cartões de crédito, preferindo pagamentos à vista. Isso, é claro, acaba por inibir compras mais vultosas. Entre os comerciantes, já houve quem desistisse do empreendimento, caso da grife Brooksfield Jr. Também são constantes as versões de locatários que negociam a redução de seus espaços. Há rumores de que o aluguel do imóvel está atrasado. Para uma empresa que tem como parceiros grifes internacionais como Dior, Choppard e Hermés, a prisão do diretor financeiro pode ser fatal. “Companhias desse porte, com referencial de credibilidade em todo o mundo, não gostam de ver seus nomes associados a uma empresa acusada de sonegação de impostos”, avalia o consultor Eduardo Tomia, da Brain Analitics.

“Tudo isso parece uma brincadeira de mau gosto que não tem fim”, reclamou Eliana, que passara toda a manhã da quinta-feira reunida com advogados. Impedida pela Justiça de fazer importações, a Daslu resolveu comprar mercadorias vindas do Exterior por meio da Columbia Trading. O problema é que um lote de bolsas Gucci e Chanel, avaliado em R$ 1,7 milhão, trazido ao Brasil em dezembro pela Columbia, foi apreendido no porto de Itajaí, em Santa Catarina. Acusação: teria ocorrido uma manobra alfandegária pela qual seriam sonegados R$ 330 mil em Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Detectou-se que a mercadoria seria destinada à Daslu. Foi o suficiente para que dois procuradores da República pedissem, e obtivessem em juízo, a prisão de Antonio Carlos. Ele foi acusado de esconder-se de intimações judiciais e tentar iludir a Justiça. “Meu irmão está muito deprimido”, defendeu Eliana. Da última vez que foi preso, ele passou cinco dias atrás das grades. No episódio da semana passada, não havia previsão para a sua soltura.


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