Exagerada, Carmen Miranda (1909-1955) transformou a sandália plataforma num verdadeiro degrau. Os famosos saltos, que iam de ponta a ponta nas suas sandálias, aumentavam em mais de dez centímetros seu parco metro e meio de altura. Os estranhos pisantes foram tão fortemente divulgados que muitos pensam, até hoje, que a famosa brasileira é a inventora do salto plataforma. “Não é invenção dela, é da época dela. Carmen levou a plataforma ao auge, colocou no mapa mundial”, explica a consultora de moda Hiluz del Priori. Era década de 30 num Rio de Janeiro delicado como nunca e o novo salto estava também nas peças de mestres da sapataria mundial, como o italiano Salvatore Ferragamo. Exatamente como hoje, quando voltam aos pés femininos em versões sofisticadas e populares, normais ou exóticas.

Na rede de lojas Mr.Cat o plataforma, assim como o anabela – que tem todo o solado reto, enquanto o outro pode ter salto alto mais fino atrás –, nunca sai das vitrines. “As brasileiras são baixinhas e adoram o modelo porque aumenta a altura”, explica a estilista Tiza Rangel. Para Glorinha Paranaguá, que dá nome à grife que abastece consumidoras de alto poder aquisitivo, o conforto também é um dos responsáveis pelo sucesso: “É cômodo para o dia-a-dia, especialmente para andar em calçadas esburacadas como as das nossas cidades”, avalia. Há versões tão modernas desses saltos que beiram à extravagância. Na multimarcas Elkhero, em Ipanema, na zona sul carioca, os modelos de vitrine da Colcci, Carmim, Para Raio e da própria loja parecem às vezes calçados de astronautas. Mas fazem o maior sucesso. “Vende muito. As botas são mais procuradas pelo público alternativo ou das festas eletrônicas. É fundamental para quem procura esse visual andrógino”, afirma o vendedor Walter Pfeilsticker.