A figura lembra Jô Soares, mas a inspiração veio do mestre Chico Anysio. Roberto Gurgel – ou Gurjô, como preferem alguns – produziu material didático para crianças. O chefe do Ministério Público Federal quer o mensalão em salas de aula e elaborou uma cartilha, disponibilizada no site “Turminha do MPF”, que indignou o PT. Os antigos comunistas, que no passado eram acusados de devorar criancinhas, hoje acusam o procurador-geral de promover lavagem cerebral contra o partido.

Gurgel, que se coloca como porta-voz da ética e da honestidade na cartilha, demonstrou interesse pessoal na causa e, por isso, já é alvo de uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público, proposta pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). De todo modo, não deixa de ser interessante estimular o estudo da Ação Penal 470 em salas de aula. O que, além de pedagógico, é também divertido.

Nas sessões do Supremo Tribunal Federal, a disputa pelo papel de Rolando Lero foi acirrada. Terá sido o criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende o ex-deputado João Paulo Cunha? “Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Comi-o”, disse Toron, citando Oswald de Andrade. Ou terá sido Márcio Thomaz Bastos, a quem o “amado mestre” se encaixaria perfeitamente antes de cada uma de suas falas?

Sambarilove, no julgamento, há um só. É Roberto Jefferson, malandro à moda antiga, que ora diz uma coisa, ora diz outra. Ora o mensalão existiu como mesada parlamentar, ora como “figura retórica” e construção mental. Ora o chefe era José Dirceu e, agora, sua defesa aponta as baterias contra o ex-presidente Lula.

Zé Dirceu, aliás, quem será? Joselino Barbacena, aquele que se escondia do professor? “Larga d’eu, sô!”. E os advogados do Rural, que se revezam no papel de Maria Jacinto Pena? Aquela que sempre lembrava, em tom choroso: “Ele morreu.” Sim, todas as responsabilidades no Rural recaem sobre o ex-presidente José Augusto Dumont, morto em 2004, num acidente de carro.

A nota de cada um dos alunos não caberá ao professor Gurjô, mas aos 11 ministros do Supremo que também desempenham papéis curiosos. O presidente Ayres Britto é um beletrista, que lembra o Ptolomeu. Ricardo Lewandowski, que deve passar horas lendo seu voto de revisor, poderá dizer: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa.” Só terá que tomar cuidado para que Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes não voltem a dormir no fundo da sala, como já fizeram nos primeiros dias do “mensonão”, assim batizado por José Simão.

Com um julgamento político exibido em cadeia nacional de rádio e televisão, o Brasil também aprende que um processo tem dois lados – acusação e defesa – e que não deve se submeter a pressões externas. Com a palavra final, Bertoldo Brecha: “A ignorança é que astravanca o progréssio e zé-fi-ni.”