A figura de um homem pálido e de semblante deformado segurando um bebê no alto da
varanda de um edifício parecia parte de um
filme de terror. Na terça-feira 19, diante de
uma multidão de fãs instalados em frente ao
Hotel Adlon, em Berlim, Michael Jackson oferecia
o corpinho indefeso de Prince Michael II, um
ano. Enquanto o pai gargalhava, a criança
sacudia as perninhas, perigosamente suspensa
no ar, com a cabeça coberta por uma toalha.
Em seguida, os filhos mais velhos, Prince Michael I, cinco anos, e Paris Michael Catherine, quatro, vieram dar seu alô por trás da cortina. Horas depois, o cantor explicou querer somente agradecer o carinho do povo alemão, que o recebia para entregar-lhe um prêmio. O ilusionista Uri Geller dizia que ele só queria sentir-se integrado.

De todos os espetáculos protagonizados por Jackson ao longo de seus 40 anos de carreira, esse foi um dos mais bizarros. Reduzido a uma sombra do ídolo internacional que um dia foi, Jackson, 44 anos, está desfigurado por mais de uma dezena de cirurgias plásticas que modificaram seu nariz, lábios, bochechas e mandíbula. Há duas semanas, ao ser intimado para depor em um processo movido por
seu ex-empresário Marcel Avram, provocou burburinho ao surgir com mais curativos. Rindo muito, falava com a voz de uma criança de 12 anos e precisou de uma lupa para ler as provas.

Dois dias depois do susto na janela, em Berlim, Jackson deixou o hotel para levar os filhos ao zoológico da cidade. Vestindo um terno com um enorme  brazão, apareceu com duas crianças incógnitas em roupas pretas e véus púrpuras. Como nas burcas impostas
às mulheres afegãs, somente as silhuetas dos rostinhos delas podiam ser vistas.
A imprensa apontou-as como sendo
Prince I e Paris, frutos do casamento
do cantor com a enfermeira Debbie Rowe. O sorridente Michael,
desta vez sem a máscara cirúrgica que utiliza “para se proteger
dos germes e da poluição”, estava fazendo outro show.

Desde o ano passado, quando naufragou o seu CD Invincible, aguardado por dez anos, Jackson só frequenta as manchetes por conta de sua vida pessoal. Rompeu relações com sua gravadora, Sony, acusando-a de havê-lo boicotado por racismo. Como resposta, ouviu que o que havia arruinado sua carreira foram as denúncias de abuso de menores, em 1993. Psiquiatras definem o cantor como uma vítima da fama precoce.
O documentário Michael Jackson’s face, exibido pela rede de tevê
inglesa Channel Five em setembro, descreve o cantor como uma
pessoa infantilizada, hipocondríaca e com complexos de perseguição.
A tese é que, após uma infância cercada de sucesso e maus-tratos
do pai, o astro teria caído em um processo de autodestruição. Começou com a série de plásticas que destruíram a assimetria de seus traços, evoluiu para os casamentos desastrados com Lisa-Marie Presley
e Debbie, e termina agora com a sua relação com os filhos.