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ESFORÇO
Instituições financeiras se reuniram num feirão em São Paulo para renegociar dívidas

Num período de alta da inadimplência, juros mais baixos e crescimento econômico desacelerado, o lucro dos bancos perde fôlego. Embora os últimos dados divulgados pelo Banco Central apontem uma queda do endividamento, as principais instituições financeiras do ­País passaram a endurecer o jogo na hora de conceder empréstimos. Mas, na outra ponta, também começaram a procurar os correntistas para renegociar as dívidas. A política recente do governo de reduzir as taxas cobradas pelos bancos públicos, que desencadeou o mesmo movimento de instituições privadas, foi considerada o gatilho para a nova fase de relacionamentos entre os consumidores e o setor. Uma das iniciativas para reverter o nível do calote dos consumidores foi a Feira Limpa Nome que ocorreu em julho, em São Paulo (SP). Instituições como Caixa Econômica Federal, HSBC, Losango Financeira e PanAmericano se reuniram para quitar dívidas com a população. O índice de renegociação, segundo o Serasa Experian, chegou a 90%. “Os brasileiros viviam uma ressaca do acesso ao crédito e agora se preparam para um novo momento em que as instituições estão mais zelosas”, ressalta Ricardo Loureiro, presidente do Serasa Experian. “No feirão há um esforço concentrado dos bancos para oferecer condições facilitadas para que o consumidor volte à situação de adimplência e continue negociando com a instituição.” A previsão para o segundo semestre é de que o evento, que reuniu 40 mil pessoas, se estenda para outras cidades do País.

O desafio dos bancos consiste em encontrar novas métricas para avaliar melhor o perfil dos clientes antes de conceder o empréstimo. O diretor de risco da Caixa Econômica Federal, Rauelison da Silva Muniz dos Santos, afirma que o banco vinha se preparando para atender à demanda das classes com menor poder aquisitivo. “Fazemos um estudo detalhado do perfil de renda e de consumo e concedemos o crédito apenas se o cliente possuir uma margem livre de salário de até 25%”, diz ele. Outra precaução, explica Santos, é que os clientes se comprometam com o valor de entrada nos financiamentos. “Todas as linhas de crédito da Caixa exigem um sinal de pagamento, principalmente o financiamento de automóveis.” Com essas medidas, a instituição manteve o nível de inadimplência em 2%, mesmo índice registrado no segundo trimestre de 2011.

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IMPACTO
Hilgo Gonçalves, executivo da Losango, diz que
a inadimplência se refletiu nos eletroeletrônicos

No caso da Losango, empresa varejista promotora de vendas do banco HSBC, o impacto da inadimplência se refletiu principalmente na linha de crédito de eletroeletrônicos. Entretanto, o atraso no pagamento foi percebido em todas as linhas de crédito da financeira – materiais de construção, móveis, móveis planejados e cartões de crédito. “Como percebemos a performance inferior do segmento, apertamos a taxa de aprovação ao crédito”, diz Hilgo Gonçalves, executivo-chefe da financeira. Ele conta ainda que a empresa monitora os índices de inadimplência por regiões do País e, de acordo com os números, é feita a liberação do crédito às lojas. Segundo Gonçalves, desde o primeiro trimestre do ano a empresa passou a investir no treinamento dos lojistas para oferecer o produto adequado ao consumidor.

O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, anunciou que o banco tem a expectativa de uma perda líquida com operações de crédito de R$ 18 bilhões. “É um número muito grande e quando começa a subir ficamos preocupados. Se chega a R$ 20 bilhões ou R$ 25 bilhões assusta”, declarou o executivo. “Se a inadimplência começa a cair ficamos animados e podemos retornar à expansão do crédito.” Outro banco impactado pelos resultados do primeiro semestre de 2012 foi o Santander. A instituição lucrou R$ 3,23 bilhões entre janeiro e junho, o que representou uma queda de 4,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. O presidente, Marcial Portela, explicou que, nos próximos meses, a qualidade da carteira de crédito será superior, porque incorporará com mais força empréstimos concedidos a partir do segundo semestre de 2011 – quando o banco passou a adotar critérios mais rigorosos.

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