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LONGE DOS HOLOFOTES
A secretária que apontou os caminhos do mensalão vive hoje numa chácara,
estuda biologia por conta própria e cuida da casa e do novo marido

Em junho de 2005, a então secretária Fernanda Karina Somaggio revelou pela primeira vez os nomes e o papel de cada um dos principais envolvidos no esquema do mensalão. Ela trabalhava nas agências de Marcos Valério e em entrevista concedida à revista ISTOÉ Dinheiro relatou como José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoino, dentre outros, se relacionavam com o publicitário. Afirmou ter visto malas de dinheiro saindo do escritório da SMP&B, em Belo Horizonte, para os vários destinos indicados pelos líderes petistas. Na Polícia Federal e na CPI dos Correios, Karina reafirmou o que dissera à revista e seus depoimentos foram fundamentais para a descoberta do modus operandi do valerioduto. Na tarde da quinta-feira 2, enquanto milhões de brasileiros assistiam pela tevê ao início do julgamento do mensalão, no interior de São Paulo, Karina acompanhava os debates no STF sem muito entusiasmo. “Isso não vai dar em nada”, disse, incrédula.

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JUNHO DE 2005
Karina diz à ISTOÉDinheiro que malas de dinheiro transitam pela agência de Valério
e cita pela primeira vez Silvio Pereira, José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares

Passados sete anos do escândalo, a “secretária do mensalão”, como ficou conhecida, recusa o título de “garota nacional” que lhe atribuíram por ter tido a coragem de denunciar o próprio chefe e por ter sido convidada a posar nua para uma revista masculina. Aos 39 anos, mais introspectiva, econômica nas palavras, voz baixa e delicada, ela evita a imprensa, diz-se “totalmente decepcionada com a política”. “Mas qualquer que seja o resultado do julgamento, a cultura da corrupção no Brasil não mudará. Não adianta, a população é ignorante politicamente”, afirma ela. “Aconteceu tudo aquilo e boa parte dos políticos envolvidos com o esquema continua no poder”, lamenta.Karina, no entanto, não se arrepende das denúncias que fez. Ela admite que sua atitude lhe trouxe muito prejuízo pessoal. “Estou desempregada até hoje”, conta. A vida da ex-secretária, de lá para cá, teve outros momentos de turbulências. Ela teve o pai assassinado dentro de casa durante um assalto, foi ameaçada de morte, separou-se do marido e respondeu a diversos processos movidos por Marcos Valério, que a acusou de extorsão. Ganhou todos. Em 2006, Karina foi candidata à deputada federal em São Paulo pelo PMDB. Conquistou 2.307 votos, mas não se elegeu. A desilusão com a política e um novo casamento a fez recolher. Hoje, vive com discrição em uma chácara no interior de São Paulo. Estuda biologia por conta própria e virou dona de casa. “Apesar das dificuldades, vivo feliz. Aqui ninguém me conhece. Estou em paz, cuidando da família”, diz.

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NA MIRA
Delúbio Soares foi um dos alvos da então secretária

Karina trabalhou na SMP&B de maio de 2003 a janeiro de 2004. Na entrevista à ISTOÉDinheiro, em 2005, ela disse que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ajudava a transferir dinheiro da empresa de Valério para políticos beneficiários do mensalão. Segundo Karina, Valério tinha um departamento financeiro para cuidar especialmente disso. Em depoimento à CPI dos Correios, ela afirmou que Valério fazia saques vultosos antes de viagens, e que esses saques chegavam a R$ 1 milhão. Karina também mostrou como os integrantes do esquema faziam saques milionários na boca do caixa do Banco Rural. Antes do depoimento, a ex-secretária entregou aos integrantes da CPI cópia da agenda em que fazia anotações desse período. A agenda apontava contatos do publicitário com diversos políticos. Apesar dos momentos de tensão que viveu logo após a eclosão do escândalo, e dos sobressaltos por que passou desde então, Karina garante que denunciaria tudo novamente. “Fiz tudo por patriotismo”, diz ela.

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