Uma das maiores vias do País, a rodovia Dutra, que liga São Paulo e Rio de Janeiro, parou na semana passada em um protesto de caminhoneiros tão inusitado como anárquico. Meia dúzia de líderes, a mando de seus patrões, que temiam perder dinheiro com a nova regra aos motoristas de parada obrigatória de 30 minutos a cada quatro horas de direção e descanso ininterrupto de 11 horas, fechou na marra a estrada, ameaçou com paus e pedras quem furava o bloqueio e promoveu o caos com a ameaça no fornecimento de suprimentos básicos à população das duas grandes capitais. O movimento patronal, disfarçado sob o manto de protesto sindical, inaugurou mais uma etapa de boicote condenável nos moldes do que ocorreu à época do Plano Cruzado, quando produtores escondiam o boi no pasto para aumentar o preço da carne. Esse tipo de sabotagem – que mistura truculência, motivações espúrias, baderna e esperteza de grupelhos que atentam contra o interesse geral – deveria ser punido exemplarmente. Mas não foi o que aconteceu. Autoridades rodoviárias assistiram impávidas ao aumento perigoso do protesto, que chegou a provocar vários incidentes com quem passava pelo local e por pouco não se transformou numa grande tragédia. A ausência de ordem e resistência oficial deu a senha para que outras ações do tipo pipoquem Brasil afora. Motoqueiros fecharam a marginal Pinheiros na capital paulista e avenidas do Rio de Janeiro em protesto contra as novas regras para atividade de motoboy. Em várias cidades do território nacional estudantes convivem há meses com a falta de aulas por uma greve interminável de professores em 57 universidades públicas. O ano letivo está perto de ser perdido. O Ministério da Educação deixou o assunto correr livre, por imprudência ou descaso, sem negociação, e a situação chegou a um ponto insustentável, de quase calamidade. Para os próximos dias foram anunciadas greves em vários setores essenciais. O Judiciário promete parar pedindo aumento de salário dos servidores. O mesmo ocorre com a categoria dos policiais federais, que já avisou que cruza os braços a partir desta terça-feira. A escalada de violência pode vir a reboque. Esse ciclo multiplicador de paralisações ameaça travar o País e deve ser rapidamente quebrado, sob pena de atentados em série aos direitos dos cidadãos.  


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