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COM OS DONOS
O sucesso de Nélio Botelho explica-se
pela sua proximidade com os patrões

O presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nélio Botelho, detém uma tradição. A cada 13 anos, ele encabeça uma ação que paralisa o País. Sempre em 25 de julho, dia de São Cristovão – o padroeiro de quem leva a vida na boleia. Foi assim, em 1986, quando liderou a primeira greve nacional da categoria, responsável pela criação dos primeiros sindicatos de caminhoneiros, como o do Rio de Janeiro, do qual é presidente. Repetiu a dose com mais intensidade em 1999, provocando a ira do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, FHC chegou a cogitar o uso do Exército para desmobilizar o movimento que se alastrou pelas estradas de norte a sul do País. Mantendo a tradição, Nélio Botelho voltou a agir nas últimas semanas. Da sede do MUBC, disparou, com a ajuda de seu staff, milhares de mensagens eletrônicas conclamando os companheiros a pararem as rodovias brasileiras no dia 25 de julho. Enquanto selava, em Brasília, um acordo com o ministro dos Transportes, Paulo Sergio Passos, na terça-feira 31, ele já tinha parado as principais vias de ligação do País e os motores de 80% da frota nacional de caminhões.

Tamanho sucesso das investidas de Nélio Botelho, segundo lideranças do setor, explica-se pela sua proximidade com os patrões. O próprio Nélio não esconde a relação. “Existe interesse patronal, sim. Mais de 75% deles estão a caminho da falência com a situação atual. Estão nos apoiando”, diz. “As empresas pararam mais de 50% dos seus caminhões”, complementa. Botelho justifica que o setor vive um período tão conturbado que exige a união dos dois lados. “Eu mesmo, como estou envolvido com a cooperativa, sindicato e o movimento, tenho um funcionário que dirige meu caminhão. Queria pagar para ele um salário bem melhor. Mas, com a condição atual, não dá”, resume Nélio. Entre outras reivindicações, o MUBC questiona a lei que obriga os caminhoneiros a descansar, pelo menos, 11 horas por dia.

Publicamente, Nélio Botelho faz questão de dizer que tem alergia a política e que o movimento comandado por ele é apolítico. “Quando vou a Brasília, recebo um monte de cartões de deputados e ignoro. Agora, então, vai ter mais ainda”. O próprio site da organização, porém, desmente o seu líder. Em uma página é possível ler: “Nas eleições de 2000, comprovamos nossa real capacidade ao contribuirmos decisivamente na eleição de inúmeros vereadores e vários prefeitos, em diversos Estados do País.” Essa visão é mais condizente com a ideia de Nélio de que a categoria pode montar o sindicato mais forte do País.

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