CAO GUIMARÃES – PASSATEMPO/ Galeria Nara Roesler, SP/ até 25/8

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VOLTA NO TEMPO
Belo Horizonte na neblina em foto da série “Paisagem Real”

Diante das 21 obras que compõem a nova individual do artista mineiro Cao Guimarães, sente-se que o tempo parou de passar. Denominada “Passatempo”, a mostra é um desafio. A começar pelo título: em cada uma das obras expostas, o que se vê não é a passagem do tempo, mas a sua dilatação. Nas fotografias da série “Paisagem Real” – em que o artista registra cimos de prédios envoltos em neblina, em homenagem à série de pinturas “Paisagens Imaginárias”, de Alberto da Veiga Guignard, nas quais o pintor reinventou a montanhosa paisagem mineira destituindo-a de perspectiva –, o que se percebe é o tempo em estado de suspensão. E é à eternidade que o artista se atém especialmente no filme “Limbo”.

Realizado para a 8ª Bienal do Mercosul, o curta-metragem de 17 minutos foi filmado no Uruguai, em 2011, e ganha uma nova versão para esta exposição. O filme parece contar a história de uma criança fantasmagórica. Playgrounds abandonados cujos brinquedos se movimentam sozinhos unidos à paisagem gélida e monótona dos pampas dão a sensação de que pelas paragens uruguaias nada muda e se está para sempre preso na infância. “O que me fascina nos Pampas é que tudo é amplo, dilatado. A impressão que eu tive é de que ali o tempo não passa e o limbo é esse estado de suspensão”, diz o artista à ISTOÉ.

A presença da infância permanece em “Otto”, obra mais recente do artista, dedicada ao nascimento de seu primeiro filho. Guimarães resume, em 70 minutos, o diário audiovisual que realizou da gravidez de sua mulher. Imagens de ultrassom se fundem às de uma história paralela passada na Turquia, onde as construções metafóricas fazem referência ao repetitivo ciclo da vida e da fecundação. E já que o tempo “é uma condição relacionada com a existência do nosso eu”, como afirmou certa vez o cineasta russo Andrei Tarkovsky, o que Cao Guimarães faz afinal é revelar as suas próprias passagens marcadas pela experiência da paternidade e das paisagens imaginárias da infância, partes infindáveis do ciclo maior que é o da vida.

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