Eles podem ser vistos caminhando na Lagoa Rodrigo de Freitas ou jogando futebol no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. E dificilmente alguém notará que são doentes psiquiátricos em pleno tratamento. Essas cenas foram incorporadas à prática de centros que estimulam os doentes a fazer atividades ao ar livre, em contato com a sociedade. Ao contrário dos manicômios, nesse tipo de clínica o paciente não fica permanentemente internado. Vai de manhã e sai no final da tarde. A diferença do novo método é que ele não passa todo o dia entre quatro paredes. Assim, ganha auto-estima ao perceber que é capaz de participar de programas como qualquer um. A outra vantagem é que a socialização e o eventual e esperado retorno à rotina tradicional ficam facilitados.

A experiência compensa. Nos sete anos do centro Villa Ipanema, no Rio, apenas dois entre 160 doentes voltaram a ser internados em hospitais. Além de caminharem diariamente, a cada três meses eles passeiam com os médicos. Num churrasco em Cachoeiras de Macacu, na serra fluminense, uma paciente esquizofrênica teve medo de entrar na piscina. Mas, estimulada, mergulhou. “Seus olhos ficaram marejados. Ela nem se lembrava da última vez que tinha feito algo parecido”, recorda George Helal Filho, diretor do centro.

Na Casa Verde, também no Rio, 40 doentes viajam para uma fazenda. “Eles se transformam. Até os mais dependentes se soltam”, conta a psicóloga Sônia Müller. As quintas-feiras são reservadas para idas a museus e cinemas. As sextas, ao futebol. Não são as únicas iniciativas. Semanas atrás, foi criado na Santa Casa de Misericórdia do Rio um programa que combina medicação, atividade física e convívio social. O mesmo princípio é adotado em A Casa, em São Paulo. Lá, os 30 pacientes escolhem as atividades externas das sextas-feiras. As saídas vão de um sorvete no parque a visitas culturais. “A evolução de todos depois do início das atividades é notável”, diz Nelson Carrozzo, um dos fundadores da instituição.

O pioneiro
O psiquiatra italiano Franco Basaglia (1924-1980) foi um dos primeiros a defender
o fim do isolamento social de pacientes com problemas psiquiátricos. Ele entendia que o confinamento das pessoas em hospitais produzia o que chamava de “duplo da doença mental”. Ou seja, causava ainda mais distúrbios do que a enfermidade apresentada pelo paciente.


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