Pequena apenas no jeito franzino
e delicado… Quem a conheceu sabe
de sua grandeza e personalidade
de atitudes firmes e decididas…
m exemplo de perseverança
e amor à vida.

A pequena Kat Schürmann, a mais nova marinheira da família Schürmann, foi embora sem dizer adeus aos pais e irmãos que a acolheram. Durante 13 anos, ela, nascida na Nova Zelândia, conviveu com os navegadores brasileiros que abandonaram todo o conforto de casa, carro, trabalho e escola para realizar um sonho e uma aventura: dar a volta ao mundo num veleiro, façanha que realizaram por duas vezes. Heloísa e Vilfredo Schürmann adotaram a menina doente, portadora do vírus HIV. Na segunda-feira 29, numa carta comovente, com o título: “O novo rumo da nossa pequena tripulante Kat”, o casal anunciou a morte da pequena, que não resistiu a uma pneumonia (os trechos do comunicado estão em destaque nesta reportagem). A nobreza dos Schürmann, que acolheram a menina com três anos sabendo que ela era soropositiva, é um exemplo de generosidade e de uma vida sem preconceitos. O mundo inteiro se emocionou quando soube que Kat fechou seus olhinhos claros e apagou o sorriso de inocência infantil. Todos torciam para que a doença não fosse adiante.

Não era a primeira vez que, rapidamente, um pequeno resfriado transformava-se em um princípio de pneumonia e debilitava a nossa mais jovem tripulante. Mas repentinamente a vontade de Kat, feito uma forte rajada de vento, enchia o seu espírito de vida e tudo não passava de um susto. Mas desta vez não deu…

Na emocionante carta dos Schürmann, Kat está em sua plenitude de exemplo de vida. Desde que nasceu, lutou bravamente para viver junto à família, aos amigos e à natureza que tanto amava. Sua mãe foi embora, seu pai partiu logo depois e ela caiu no colo de sua verdadeira família, que lhe trouxe carinho, alegria, atenção e conhecimento. Defensora apaixonada do meio ambiente, Kat era uma menina curiosa, esperta e fascinada por histórias.

Teve tempo para aprender a falar com fluência português, inglês e espanhol e tornar-se protagonista de um projeto da família: um desenho animado em que ela viaja num veleiro mágico com uma boneca e um golfinho. Ainda pequena, navegou 54 mil quilômetros num evento que comemorou, em Porto Seguro, na Bahia, os 500 anos do descobrimento do Brasil. Nesta jornada, os Schürmann reproduziram a rota da esquadra de Fernão de Magalhães e, depois, desembarcaram na cidade baiana. A aventura foi acompanhada pela internet por 1,5 milhão de pessoas em 44 países. Enquanto viveu no barco, Kat estudou por correspondência seguindo o mesmo método adotado pelas crianças que viajam o mundo nos circos. Em Ilhabela, no litoral paulista, onde morou nos últimos anos, voltou a freqüentar a escola regular. Estava na sexta série.

Kat sempre foi muito especial e deixou mais exemplos e ensinamentos do que muitos que viveram décadas…

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Ela passou por maus momentos provocados pela doença. Noites maldormidas, remédios, hospitais, mal-estar. Mas sempre debateu a questão do preconceito, a importância do amor e da família. A esperança de vida para os que passam por doenças quase sempre fatais, como a de Kat, é que novos medicamentos possam surgir e assegurar a vida por um bom tempo. Não deu para a pequena esperar. Ela foi embora muito cedo, depois de passar por cima da discriminação que sempre enfrentou. Deixou muita gente triste, mas, como disseram seus pais, foi navegar num mar de paz.


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