O inverno ainda não chegou, mas para quem sofre de asma as mudanças bruscas de temperatura no outono são o anúncio de uma inevitável temporada de tosses, chiados, sensação de aperto no peito e falta de ar, os sintomas típicos do problema. Asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas respiratórias, que provoca estreitamento dos brônquios. Isso reduz a passagem do ar que chega aos pulmões. E, pelas estatísticas, não são poucos os condenados a esses ataques incômodos. No Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas sofrem do mal. Ele se manifesta sempre que o sistema de defesa do organismo fica sensibilizado ao entrar em contato com um alérgeno, o nome científico dado a toda substância capaz de detonar as crises da doença. Entre as mais comuns estão o ar frio, o ácaro, a fumaça de cigarro e cheiros fortes. Para alívio dos pacientes, a cada ano surgem novas terapias para reforçar o arsenal contra a doença. Uma delas, ainda em estudo, mas com boa perspectiva para o futuro, é a vacina contra o ácaro, responsável por 90% das manifestações alérgicas. O trabalho, feito por pesquisadores suíços, envolveu 20 pacientes e durou dez semanas. “A vacina mostrou-se eficaz e de efeito duradouro”, comemora Wolfgant Renner, um dos pesquisadores. Se der certo, será a primeira do gênero.

Em outro estudo, realizado por cientistas do Centro Médico Henry Ford, de Detroit, nos Estados Unidos, em parceria com 18 hospitais americanos e outros 30 centros internacionais, especialistas testaram uma técnica radical e polêmica para tratar casos graves. Os médicos constataram que nos pacientes submetidos à pesquisa os músculos próximos das vias respiratórias estão aumentados como resultado das sucessivas inflamações. Essa condição agrava ainda mais as crises. Para tentar resolver o problema, eles introduziram nos pulmões dos pacientes um equipamento emissor de ondas de radiofreqüência, que queimaram o tecido em excesso. O procedimento ajudou os pacientes a respirar melhor. O trabalho, ainda experimental, animou os estudiosos, que farão uma pesquisa mais ampla com 300 asmáticos.

Outra novidade animadora é a chegada recente do Xolair, nome comercial do princípio ativo omalizumab. O remédio age inibindo a ação da proteína IgE, envolvida no desencadeamento dos sintomas da asma. O medicamento é considerado um avanço porque age na raiz do problema, ou seja, impede o desenvolvimento do processo alérgico. “Ele está indicado para os casos de difícil controle, que não respondem aos tratamentos adotados até agora”, explica Tatiana Matozo, gerente médica da Novartis, laboratório fabricante do medicamento.

Para as crianças, um dos novos recursos é a ciclesonida, com nome comercial de Alvesco, indicado a partir dos quatro anos. O medicamento só começa a atuar quando chega aos brônquios. Essa condição reduziria os fortes efeitos colaterais, uma vantagem importante para os organismos frágeis dos pequenos. O medicamento pode ser uma alternativa menos preocupante para os pais. Os tratamentos atuais associam o uso de corticóides, que agem na inflamação, e os broncodilatadores, a famosa “bombinha”, que relaxam a musculatura. Mas muitos temem a ocorrência de efeitos colaterais, como retardo no crescimento. Um medo sem fundamento, segundo os médicos. “Os medicamentos inalados são seguros”, garante a médica Cristina Kokros, do Serviço de Alergia e Imunologia do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Ainda em relação ao universo infantil, especialistas brasileiros de várias sociedades médicas, entre elas a de Alergia, de Pneumologia e de Pediatria vão se reunir este mês para revisar as formas de tratamento da doença. Nesse encontro serão discutidos temas como o papel dos corticóides, dos antibióticos e dos broncodilatadores. “Há novas evidências quanto às formulações, dosagens e indicações para crianças. Esse encontro ajudará a redirecionar o tratamento”, afirma o médico Nelson Rosário, presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia. As conclusões vão gerar um documento que servirá de guia para diagnóstico e no momento da prescrição do medicamento correto.

Esses são esforços importantes para controlar uma doença séria mas ainda negligenciada e que, por isso, faz muitas vítimas. Só no Brasil, morrem 2,5 mil pessoas por ano por causa da doença. O desconhecimento e a falta de tratamento adequado estão entre os principais motivos dessa mortalidade. Mas, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Asmáticos, Bernardo Kiertsman, tão importante quanto o tratamento durante as crises é a prevenção. A asma não tem cura, mas tem controle. E isso inclui o uso de medicamentos sob orientação médica e higiene ambiental – manter a casa sempre limpa, evitar o contato com objetos como urso de pelúcia, carpetes e animais domésticos.

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