Ele está ressurgindo das sombras e tem a bênção do Palácio do Planalto. Ex-presidente do PT, em cuja gestão foram feitos mais de R$ 50 milhões em empréstimos avalizados pelo publicitário Marcos Valério, José Genoino pretende voltar à Câmara dos Deputados. O chefe do gabinete pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho, já mandou avisar os atuais chefes do partido que a eleição de Genoino é do interesse direto do presidente. Na prática, o recado está funcionando como uma ordem para que milhares de votos controlados pela estrutura partidária – dos militantes fiéis aos que têm emprego em repartições públicas – venham a ser dados, em outubro, a favor do ex-presidente da legenda. “Essa campanha vai ser sangrenta, virulenta”, tem dito Genoino a seus amigos. “Mas estou menos ingênuo. Chega de passar da unanimidade para o pré-julgamento.”

Se o projeto de Genoino der certo, Lula poderá fazê-lo líder do seu segundo governo. Confrontado com a possibilidade, Genoino, fiel ao seu estilo, desconversa. Enquanto isso, o ex-presidente do PT recolheu-se à sua casa e passou a contrariar sua maior característica como parlamentar. “Não quero mais ser estrela”, diz ele nesses tempos de ostracismo. “Isso não me atrai. Me expus e vi o que foi.” De fato, em razão das constantes visitas ao comitê de imprensa da Câmara dos Deputados, e sempre pronto a longas conversas com jornalistas, Genoino tornou-se durante seus cinco mandatos como deputado federal um dos políticos do PT que mais ocuparam espaços na mídia. Quando caiu, o tombo foi proporcional à sua projeção. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o acusou de, ao lado de seus amigos, ser partícipe da quadrilha que operava recursos para alimentar a Câmara com o mensalão.

Para o próprio Genoino, no entanto, isso parece ser coisa do passado. “Hoje estou com os pés no chão, muito tranqüilo e com paz interior para voltar à militância”, conta ele, discretamente, em suas conversas privadas. Além de obter dividendos com essa espécie de silêncio obsequioso, Genoino tem buscado duas maneiras de fazer campanha. Coloca-se no centro de reuniões com ativistas políticos de diferentes setores. Tem falado com sindicalistas, pequenos empresários e formadores de opinião. Com eles vai montando uma plataforma para atuar como deputado federal. “Penso uma forma de fazer política diferente, do meu jeito”, reflete. “Política é uma relação direta entre as pessoas. É isso o que vou fazer. Se vai dar certo? Não sei”, avalia Genoino.

A outra arma silenciosa, porém de longo alcance, para resgatar um mandato que lhe dará condições de voltar a falar como um vitorioso é a internet. Com um blog que é sucesso entre os petistas, no qual pratica seu discurso politicamente correto, Genoino aprofunda, sempre que pode, seu coté bom moço. “Me cansei de cargos, das manchetes, das entrevistas. Vivi os dois lados da mídia, o da festa e o da degradação”, desabafa. Pode ser. Mas que desde já é candidato a deputado – e assim voltar às manchetes – isso é.


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