Kenneth e Linda Lay perderam a coroa e, ao contrário do que se diz, também perderam a majestade. Ele era o principal executivo da Enron, que era a sétima maior empresa dos Estados Unidos e entrou para a história americana como a maior falência do país, provocada por uma roubalheira praticada por executivos em parceria com a empresa de consultoria internacional Andersen. Ela era a primeira-dama da Enron, aquela que aparece sorrindo nas fotos clássicas de grandes eventos da companhia ao lado do marido poderoso. A Enron quebrou, a família Lay continua milionária, mas o escândalo persiste, provocando um severo “downsizing” no status do casal. Para se distrair, Linda está abrindo um antiquário, Jus’Stuff, em Houston, onde venderá, inclusive, objetos e móveis pessoais da família. Kenneth, que nega ter conhecimento das falcatruas e se recusa a depor no subcomitê do Senado americano que investiga a falência da companhia, vende propriedades pessoais, casas em Aspen, no Colorado, e Galveston, no Texas, além de propriedades comerciais, talvez para diminuir um pouco o impacto de seus sinais explícitos de riqueza. A vida continua, mas, a menos que o dinheiro
lhes baste, eles terão dificuldades de outra ordem que os impedirá
de ser felizes para sempre. O escândalo Enron não pára de apresentar novos capítulos.

O jornal americano Wall Street Journal acaba de denunciar dois crimes que a companhia cometeu sob o comando de Kenneth nas obras do gasoduto Brasil–Bolívia, um contra o meio ambiente e outro de origem financeira. Primeiro, usou US$ 200 milhões que haviam sido negociados para a obra com a agência Overseas Private Investment Corp. (Opic) para, numa manobra contábil, inflar seus resultados. Depois, com consequências mais dramáticas e duradouras, devastou uma enorme área da floresta boliviana Chiquitano, uma das 200 regiões ecológicas sob maior risco no mundo.

Mais acusações: a empresa teria negociado com outras companhias do setor energético estratégias para aumentar os preços do fornecimento de energia na Califórnia durante os anos 2000 e 2001. Segundo a Federal Energy Regulatory Comission (Ferc), a empresa criou um falso congestionamento na rede de transmissão para, em seguida, propor o transporte de energia para fora da Califórnia e, assim, cobrar do governo pelo serviço. Nos depoimentos que alguns dos principais diretores da companhia fizeram ao subcomitê do Senado, todos disseram em coro que os executivos e a Andersen esconderam deles informações. Os senadores não acreditaram e insistem que os diretores têm responsabilidade sobre o colapso da empresa, além de terem falhado na proteção dos interesses dos acionistas.

Há poucos dias, os credores da empresa ouviram, em Nova York, um plano apresentado pelo executivo-chefe da reestruturação da Enron Corp., Stephen Cooper, segundo o qual o gigante falido poderá ressurgir numa empresa muito menor, a OpCo Energy, que atuaria na distribuição de energia e gás natural.

Kenneth Lay não pode nem chegar perto dessa possibilidade para não estragar o negócio. O mago, que em dez anos transformou a Enron, uma obscura companhia de gás natural, na sétima potência americana no mundo dos negócios, caiu em desgraça. Nem todo o dinheiro que ele deu para a campanha eleitoral do presidente George W. Bush consegue fazer com que seus telefonemas sejam atendidos pelo pessoal que rodeia Bush, inclusive o secretário do Tesouro, Paul O’Neil. Seu prestígio na high-society virou pó, como as ações da companhia.