Na manhã de segunda-feira 6, as ações da Compaq – uma das líderes mundiais na fabricação de computadores pessoais – deixaram de ser negociadas na Bolsa de Nova York. Os corretores de Wall Street passaram a negociar os papéis de uma nova companhia de informática chamada HPQ. Foi o desfecho da crônica de uma morte anunciada, cujo enredo se desenrolou por oito meses e e no qual não faltaram intrigas, lutas e ranger de dentes. O resultado foi a maior fusão da história dos computadores, um negócio avaliado entre US$ 20 bilhões e US$ 22 bilhões. Juntas, Compaq e HP formam um mamute empresarial com cerca de 150 mil funcionários, atuação em 160 países e promessa de faturar US$ 88,7 bilhões em 2004. Na terça-feira 7, no auditório da HP em Palo Alto, Califórnia, Carly Fiorina – dona da casa e principal executiva da nova empresa – fez o anúncio formal do nascimento da HPQ (o “Q”, disse, é uma homenagem à finada Compaq) e arrebatou o título de “czarina do mundo digital” prometendo guerra ao império rival da IBM e benevolência no trato de seus súditos. Um em cada quatro computadores instalados nos Estados Unidos tem o símbolo da HP ou da Compaq, o que coloca sob a tutela de Fiorina no mínimo 140 milhões de americanos, fora os outros milhões de usuários em escala global.

Para esses consumidores, as perspectivas da fusão trazem boas e más notícias. Primeiro as boas: ao anunciar a superempresa, Carly Fiorina e seu alto escalão apresentaram um minucioso plano de vôo com metas e objetivos para cada área de seu reinado. “Dedicamos um milhão de horas na elaboração dessa fusão”, disse a czarina. A planilha de ação servirá como uma espécie de contrato para os acionistas da HPQ, que vão cobrar resultados. Para quem não tem ações da companhia, a relação entre promessas e cobranças poderá se traduzir em melhores produtos. Para justificar a fusão, Michael Capellas, ex-Compaq e presidente da nova HPQ, disse que as previsões indicam que só as megaempresas sobreviverão. “De agora em diante, não teremos mais crescimento de 30% ou 40% como se viu nos anos 90. Só quem tem grande estrutura pode investir em pesquisas, melhores serviços e inovações. A HPQ vai dedicar US$ 4 bilhões anuais a pesquisas”, disse Carly. Somente no setor de computadores de mão, as inovações devem transformar as maquininhas num dos carros-chefes da nova companhia. “A idéia é criar um computador de mão que rivalize com um notebook”, diz Capellas. Outra aposta será na explosão da capacidade de armazenamento digital, principalmente no que se
refere a imagens.

Os analistas de mercado, como a Gartney Inc. de Stanford, no Estado de Connecticut, apontam outras vantagens para quem pretende comprar um computador. A previsão é de que a HPQ perderá fatias do mercado nos próximos meses em razão do nervosismo e da incerteza dos consumidores, o que eventualmente pode resultar numa guerra de preços. A HPQ promete atendimento, apoio e manutenção de três anos para todos os produtos antigos com as marcas Compaq e HP. Não significa que os sistemas hoje à venda terão continuidade. Alguns vão desaparecer rapidamente.

No rol das más notícias, algumas são preocupantes. Por exemplo: a HPQ será a número 1 em computadores voltados para o uso em empresas, os servidores. A liderança, apontam os concorrentes, não vai durar muito. Como qualquer mamute, a nova HP pode demorar demais para reagir e se atualizar num mercado em que um produto fica obsoleto em seis meses. A consolidação da HPQ vai exigir o aparo de arestas. A primeira delas será a eliminação de funções redundantes. A promessa é de corte de 15 mil empregos, inclusive no Brasil, onde as empresas tinham tropas separadas. A devassa começa nesta segunda-feira 13 e só termina em agosto, de acordo com a czarina Fiorina. Com boas ou más notícias, a fusão nuclear entre Compaq e HP criou uma colossal usina de força que vai influir diretamente no dia-a-dia dos dados binários de 160 países.


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