Queda na mortalidade infantil, alta na desigualdade social, mais telefones e menos casamentos. Aos poucos, o raio X do Brasil vai sendo revelado. Na semana passada, o IBGE divulgou a quarta amostra preliminar do Censo 2002, cujo resultado está previsto para o final do ano que vem. O governo comemorou a maioria dos índices, sobretudo o que colocou o País abaixo da meta de 32 óbitos infantis exigida pelas Nações Unidas – 29,6 mortes por grupo de mil. Também foi bom saber que 94% das crianças de sete a 14 anos estão na escola. Quanto à renda brasileira, não há o que festejar. Um em cada quatro trabalhadores ganha até um salário mínimo, sendo que no Nordeste há 46,2% pessoas nessa condição. Mas as vedetes da pesquisa não estão nos indicadores socioeconômicos. Chamou mais a atenção o aumento do número de pessoas que assumem ser da raça negra, de 5% para 6,2% da população, e dos que pertencem às igrejas evangélicas – 9,1% das pessoas na década passada para os atuais 15,4%.

“Os negros estão se valorizando, mas ainda é mentira que eles são apenas 6% dos brasileiros”, diz a antropóloga da PUC-SP Lúcia Helena Rangel, que mostra o fenômeno pela redução em 9% do número de respostas dos que se julgam pardos. Já a explosão dos evangélicos e a queda do porcentual de católicos seriam explicáveis pela facilidade de expansão das novas seitas, pelo perfil liberal de algumas igrejas e por suas promessas mais imediatas. São destaque dessa estatística os Estados do Rio de Janeiro e de Rondônia. Este último, por ser uma região que vem atraindo muitos imigrantes, importa novas crenças. Já o alto índice de evangélicos (21,13%) e ateus (15,53%) no Rio advém de sua grande diversidade de religiões e diminuição de 83,8% para 73,8% o número de fiéis católicos.

Na avaliação de Regina Novaes, do Instituto de Estudos da Religião e professora da UFRJ, o porcentual reflete o modo de vida carioca. “O Rio assume a diversidade como uma marca positiva. As pessoas sem religião, que eu costumo chamar de religiosos sem religião, são aquelas que unem vários conceitos diferentes e os sintetizam”, afirma. O estudante Rômulo Correa, de 21 anos, explica sua opção: “É muito mais fácil justificar que você não conseguiu alguma coisa atribuindo a uma obra divina do que à incapacidade própria.” Para o jovem, o melhor é acreditar em si mesmo.